“O
passado é algo que nunca poderemos possuir”. Ao tomarmos consciência os fatos
já estão inacessíveis, não podemos revivê-los, nem recuperá-los e muito menos
retornar no tempo, só nos resta representá-los.” (GADDIS, Jonh Lewis).
Dois fatos foram fundamentais para essa tomada de consciência sobre a necessidade de sair da obscuridade, buscar nossas raízes e poder prestar uma homenagem aos nossos antepassados, que abandonaram a sua pátria e rumaram para o Brasil em busca de melhores condições de vida, deixando um exemplo de coragem e esperança.
O primeiro foi no
segundo semestre de estudos, do ano de 2017, na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul – UFRGS, ao cursar a cadeira eletiva de História do Rio Grande do
Sul com a Professora Clarice Gontarski Speranza, quando apresentei um ensaio sobre a imigração no
Rio Grande do Sul, com a temática sobre
as origens da família Rampanelli.
O segundo também aconteceu no ano de 2017, com a minha viagem à Itália, visitando a região do Trentino Alto-Ádige, local de origem da família, onde teve início está história, que agora será contada.
Resgatando as raízes: Luiz Rampanelli, o autor na sua visita a Nave San Rocco (Terra Del Adige) no Trentino Alto Ádige – Itália em Setembro de 2017, local de nascimento do bisavô Giuseppe Giacomo Rampanelli.
A
história oficial das correntes migratórias para o Brasil permaneceu na esfera
das políticas governamentais e nos interesses econômicos de países e de grupos
interessados na mão de obra dos imigrantes. Infelizmente, muito pouco foi
registrado da vida cotidiana, das lutas do dia a dia para sobreviver. Tudo o
que se sabe são generalidades que passam de boca em boca e ainda repetidas, mas
a caminho do esquecimento. Dos sentimentos íntimos, das vivências e das
experiências de pessoas, de famílias e de pequenas comunidades pouco foi
registrado.
A
partir de agora iremos explorar a história de nossos antepassados através dos
espaços, lugares e objetos de vida, trazendo está leitura do passado para o
presente, possibilitando aos leitores que essas imagens povoem as suas mentes e
lhes permitam “viajar” nesses percursos. Portanto, peço que abram uma janela no
tempo para voltar a este passado e resgatar a história de cada um.
A história da família Rampanelli no Brasil
não começou quando seus pais se conheceram, nem quando eles casaram, nem quando
vocês nasceram. A história de nossa família começou muito antes, quando um homem
e uma mulher, Giuseppe Giácomo Rampanelli e Ângela Nicolodi, juntos com seus quatro filhos pequenos, Luigi
(14), Pietro (9), Giovanni (6) e Giuditta (1), saíram da comuna de Cembra na
Áustria, atualmente Itália e chegaram ao Brasil no ano de 1875, acompanhados de
outros imigrantes tiroleses, fundaram a Colônia Dona Isabel, hoje a cidade de Bento Gonçalves no RS. Trouxeram
com eles somente a fé, o trabalho, a coragem e a esperança, com tudo isso não
construíram só cidades, mas também a nossa história, a da grande
família RAMPANELLI no Brasil.
A história de uma família nem sempre pode ser
inteiramente reconstruída, com a família Rampanelli não foi diferente,
principalmente por terem sido pioneiros na imigração para as colônias do Rio
Grande do Sul, em época onde várias circunstâncias impediam os registros,
portanto muitos fatos importantes e pitorescos, situações vividas por nossos
antepassados por diversas razões deixaram de ser registrados.
No
meio desta lacuna, a busca de informações, tornou-se uma tarefa bastante árdua,
para refazer a história particular de meu bisavô Giuseppe e de sua família. Ao
apresentar estes pequenos registros das memórias da vida de meu bisavô,
encontrados aqui e ali, junto a fontes primárias, estarei colaborando também
para contar a história dos primeiros imigrantes, das famílias que deram origem à Colônia Dona
Isabel, hoje, a cidade de Bento Gonçalves.
Ao registrarmos o
percurso destes pequenos atores, não podemos deixar de lado as questões sociais
e humanitárias, pois estas se encontram inseridas no processo migratório. Para
que isso aconteça, também se faz necessário, a utilização de fontes orais, apesar
de imprecisas, são fundamentais para se entender o cotidiano, o dia a dia de
cada imigrante na nova terra.
Para
contar esse pequeno percurso da família de meu bisavô é preciso
contextualizá-lo dentro da grande história da imigração europeia para a América,
especialmente para o Brasil e para o Rio Grande do Sul. É nos registros no
tempo que buscaremos os fatos para contar essa história. Estes resgates
históricos devem ser tratados com o devido rigor científico para não corrermos
o risco de distorcê-los e também para termos uma melhor clareza dos
acontecimentos, devido à significativa complexidade dos cenários que foram o
palco de atuação social dos imigrantes e da família Rampanelli no processo de
colonização no Rio Grande do Sul.
Na
investigação não podemos abrir mão das fontes primárias (documentos), nem das
narrativas biográficas de diversos imigrantes, que apesar de se tratarem de
experiências individuais, são no conjunto dos fatos muito semelhantes, uma
espécie de memória coletiva, armazenadora de um passado comum. Buscamos essas
experiências individuais e coletivas nos espaços de vida em sociedade dos
imigrantes, que viveram aquele momento, para poder refazer os percursos de
nossos antepassados e reconstruir sua história dentro de um contexto do tempo
presente.
A construção desta obra foi um processo lento
e teve a participação de várias pessoas, não está e nem ficará completa, com
certeza, não será possível esclarecer todas as nossas curiosidades, a todo
instante, novos fatos vem à tona, nem todos os descendentes foram encontrados
em função das dificuldades impostas a estes tipos de pesquisa como: alto custo
dos serviços cartoriais; falta de registros em determinados períodos; registros
realizados fora do tempo; grafias de nomes incorretas; lapsos de memória das
pessoas mais idosas nas informações prestadas; nomes que se repetem em
diferentes gerações causam muita confusão, exemplos destas dificuldades estamos
relatando através das histórias de família.
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