segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Capítulo IV - Kaiserschutzen - Os Atiradores do Imperador

                                               Kaiserschutzen  -  Os Atiradores do Imperador

            As tropas francesas superavam as forças tirolesas de cinco para um. O que fazia a diferença nessas tropas recrutadas no improviso era a presença dos “Schutzen”, atiradores de elite (protetores) que com sua coragem, pontaria e nas lutas no corpo a corpo, conseguiram repelir as forças francesas que abandonaram as suas posições.

            Apesar de recrutadas apenas em emergências, essas companhias de milícias já atuavam no Tirol, desde a sua formação pelo Imperador Maximiliano I de Habsburgo (1459-1519) do Sacro Império Romano Germânico, no ano de 1511, quando criou o Landlibell, um conjunto de normas que permitia a organização militar, um tratado de defesa entre as províncias que faziam parte do Tirol histórico (os principados de Trento, de Bressanone e do Condado do Tirol).

             Maximiliano I foi criado na França, mas era apaixonado pela terra tirolesa, criou uma organização paramilitar voluntária e composta por camponeses, artesões, comerciantes e nobres, que eram recrutados para formarem as companhias de atiradores, se chamavam de Schutzen (alemão), Sìzzeri ou Scìzer (dialeto trentino) e Bersaglieri (italiano) em toda a região tirolesa.

             É preciso ter em mente que as características de autogoverno nos vales tiroleses sempre estiveram presentes. Uma autonomia voltada para a formação de grupos de autodefesa territoriais, fiéis ao Império, mas principalmente ligados ao seu próprio território. Por isso os Schützen nunca foram reconhecidos como verdadeiros soldados. Porque uma coisa é a defesa do Estado, outra coisa é a defesa da própria terra.

            Os atiradores se reuniam principalmente aos domingos, após a missa, para treinamento. As espingardas eram guardadas pelo padre na sacristia da igreja, demonstrando o apego dos Schutzen aos princípios religiosos da Santa Igreja Romana. Não eram recrutados para lutas fora das terras do Tirol, suas ações eram realizadas dentro das fronteiras  tirolesas. Tinham direito a armamento, alimentação e uma remuneração pagas pelas comunidades tirolesas.

            Os Schutzen defendiam os valores religiosos, Deus vinha em primeiro lugar, depois o território em que viviam, trabalhavam e produziam, viam a família como pedra fundamental, o alicerce da sociedade civil, sem, nunca reclamar da sua supremacia para com os outros povos, tentavam apenas viver em paz, defendendo a sua terra, e sua autonomia.

            Quem eram esses Schutzen (atirador em alemão), sìzzeri ou scìzeri (adaptação da pronúncia tirolesa Schitzen) ou bersaglieri (em italiano) que tanto assustaram Napoleão Bonaparte?

Eles eram atiradores de elite. A partir do século XVI (1511) até o século XX (1918) o Tirol foi sempre defendido por voluntários locais. Os Schutzen fizeram grandes estragos nas tropas napoleônicas, com muitas baixas, o que fez Napoleão emitir um manifesto, distribuído em todas as comunidades tirolesas, com sérias ameaças a quem não colaborasse com os franceses,  como a dirigida aos lideres  comunitários (prefeitos) que se encontrassem companhias de atiradores nesses locais, as vilas seriam incendiadas e seus moradores enviados para as prisões na França. Quem fosse encontrado com um rifle na mão seria imediatamente fuzilado. A história nos conta que essas ameaças não surtiram efeito nenhum entre os tiroleses, muitas comunidades, como a de Cembra em 1797, foram totalmente queimadas pelos franceses.


                                    Manisfesto de Napoleão Bonaparte para os tiroleses.  
                        Fonte: http://www.fabiovassallo.it/ita/valdicembra/battaglia.html

            Mesmo assim eles não se deixavam intimidar, existiam canções que recordavam os feitos tiroleses de 1796: “Tirolesi, Tirolesi venite all'armiecco i francesi ... Tiroleses para as armas ... os franceses estão chegando.

            No século XVIII, os Schutzen utilizavam um rifle, o Stutzen, uma arma curta com cano estriado, dotado de uma precisão incrível. No Império Austro-Húngaro, eles foram chamados de Kaiserschutzen, os atiradores do Imperador. As vitórias dos patriotas tiroleses liderados por Andreas Hofer contra Napoleão Bonaparte em Bergisel (Áustria) em 1809 teve impacto especial na consciência do povo trentino, tanto que Segonzano, uma comuna ao lado de Cembra, foi chamada de Bergisel Von Welschtirol (Bergisel do Tirol Italiano), ou seja, Trentino.

            Em tempos de paz os Schutzen praticavam o esporte de tiro ao alvo, realizavam atividades de proteção civil e de bombeiros.  Hoje, no Trentino existem muitos grupos de Schutzen que participam de eventos da província com seus trajes tradicionais e rotinas de marcha.

As batalhas dos tiroleses x franceses pela retomada de Trento.

             Após quatro dias de combate as forças tirolesas comandadas por Felice Von Riccabona entraram triunfalmente na cidade de Trento forçando a retirada dos franceses da cidade. Na batalha final de 6  e 7 de novembro de 1796, o comandante Schutzen Riccabona  conquistou Castel Pietra, obrigando desta vez a retirada dos franceses de todo o Trentino.

                                      Castel Pietra (Castelo de pedra) em Calliano – Trentino/Itália. Localizado entre as cidades de Trento e Rovereto. Imagem:   https://www.tripadvisor.com.mx/Attraction_Review-g2357775-d7059333-Reviews-Castel_Pietra-Calliano_    



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