O
clero ultramontano
O
clero Trentino, na segunda metade do século XIX, período em que a maioria
dos imigrantes trentinos chegaram ao Brasil, era influenciado pelo
movimento ultramontano, uma doutrina política católica que pregava a volta dos
valores do cristianismo primitivo e também a infalibilidade do papa, buscando
em Roma a sua principal referência. O
cristianismo primitivo era comunitário, profético e dos pobres da periferia. Os
ultramontanos foram os teólogos, o clero, os religiosos e o povo em geral que
combatiam o galicismo dos católicos franceses que desejavam uma composição com
o poder civil, isto é, aumentar a influência do Estado sobre os assuntos da
Igreja e limitar o poder do Papa. Essa era a concepção do governo absolutista
de Luis XIV de França que a Igreja estaria submetida ao Estado e o poder do rei
asseguraria o bem estar dos súditos.
Em
posição contrária aos gauleses, os ultramontanos reivindicavam como autoridade
máxima aquela que tinha sua sede, ultra montes, além das montanhas (Alpes), o
Papa em Roma. Os padres sob a orientação papal empenharam-se em afirmar as
linhas doutrinárias e as diretrizes disciplinares do Concílio de Trento
(1545-1563), onde o dogma do pecado original era atribuído à natureza humana, a
sua fraqueza e a decadência. A redenção só seria concretizada e universalizada
através do domínio da Igreja sobre os continentes para que findasse a
decadência. A liberdade era a Igreja. Tudo mais era a escravidão do pecado.
Em 1870 a sociedade Trentina permanecia uma sociedade camponesa e o centro da vida econômica continuava sendo a terra. A família era a célula econômica e social mestra de tal sociedade e a Igreja Católica, aqui entendida tanto como estrutura, enquanto conjunto de leis codificadas, fornecia para tal sociedade opções éticas e morais, mitos e tensões iguais as que existiam na Idade Média.
A
igreja católica foi para o campesinato italiano e trentino o que o Estado
nacional foi para a burguesia emergente [...]
Na igreja se formavam os quadros dirigentes do campesinato, para o qual
o padre era mais que um sacerdote, mas também um líder intelectual. (POSSAMAI,
2005, p.41.apud...)
O
atual Trentino, então chamado Tirol Italiano ou Tirol Meridional continuou
pertencendo ao Império Austríaco até depois da unificação italiana em 1860. A
população mantinha-se fiel ao imperador e havia grande resistência
anti-italiana por parte dos camponeses, enquanto entre a nobreza e os
intelectuais (formados por muitos filhos e netos de italianos que haviam se
transferido para terras do Império Austríaco) havia maior simpatia pela Itália.
Somente
após a 1ª Guerra Mundial, em 1919, com o Tratado de Saint-Germain, o Trentino
(Tirol Italiano) passou a fazer parte do Reino da Itália juntamente com o Tirol
Meridional (Província Autônoma de Bolzano). Hoje a região é conhecida como
Trentino Alto Ádige, uma região autônoma ligada não mais à Áustria, mas sim a
Itália.
Em
relação à religiosidade dos imigrantes trentinos ao se transferir para o
Brasil, trouxeram consigo sua cultura, seu modo de se relacionar com o meio que
o circundava: das pequenas vilas trentinas, onde a religião era cultivada
intensamente. Os valores religiosos foram importantíssimos para ajudar a
sublimar o meio que lhes era hostil.
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