quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Família Rampanelli - Capítulo VII - O clero ultramontano

 

O clero ultramontano

                        O clero Trentino, na segunda metade do século XIX, período em que  a maioria  dos imigrantes trentinos chegaram ao Brasil, era influenciado pelo movimento ultramontano, uma doutrina política católica que pregava a volta dos valores do cristianismo primitivo e também a infalibilidade do papa, buscando em Roma a sua principal referência.  O cristianismo primitivo era comunitário, profético e dos pobres da periferia. Os ultramontanos foram os teólogos, o clero, os religiosos e o povo em geral que combatiam o galicismo dos católicos franceses que desejavam uma composição com o poder civil, isto é, aumentar a influência do Estado sobre os assuntos da Igreja e limitar o poder do Papa. Essa era a concepção do governo absolutista de Luis XIV de França que a Igreja estaria submetida ao Estado e o poder do rei asseguraria o bem estar dos súditos.

                        Em posição contrária aos gauleses, os ultramontanos reivindicavam como autoridade máxima aquela que tinha sua sede, ultra montes, além das montanhas (Alpes), o Papa em Roma. Os padres sob a orientação papal empenharam-se em afirmar as linhas doutrinárias e as diretrizes disciplinares do Concílio de Trento (1545-1563), onde o dogma do pecado original era atribuído à natureza humana, a sua fraqueza e a decadência. A redenção só seria concretizada e universalizada através do domínio da Igreja sobre os continentes para que findasse a decadência. A liberdade era a Igreja. Tudo mais era a escravidão do pecado.

                                      Duomo da cidade do Trento-Itália. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Trento_Duomo.jpg

                        Em 1870 a sociedade Trentina permanecia uma sociedade camponesa e o centro da vida econômica continuava sendo a terra. A família era a célula econômica e social mestra de tal sociedade e a Igreja Católica, aqui entendida tanto como estrutura, enquanto conjunto de leis codificadas,  fornecia para tal sociedade opções éticas e morais, mitos e tensões iguais as que existiam na Idade Média.

A igreja católica foi para o campesinato italiano e trentino o que o Estado nacional foi para a burguesia emergente [...]  Na igreja se formavam os quadros dirigentes do campesinato, para o qual o padre era mais que um sacerdote, mas também um líder intelectual. (POSSAMAI, 2005, p.41.apud...)

                        O atual Trentino, então chamado Tirol Italiano ou Tirol Meridional continuou pertencendo ao Império Austríaco até depois da unificação italiana em 1860. A população mantinha-se fiel ao imperador e havia grande resistência anti-italiana por parte dos camponeses, enquanto entre a nobreza e os intelectuais (formados por muitos filhos e netos de italianos que haviam se transferido para terras do Império Austríaco) havia maior simpatia pela Itália.

                        Somente após a 1ª Guerra Mundial, em 1919, com o Tratado de Saint-Germain, o Trentino (Tirol Italiano) passou a fazer parte do Reino da Itália juntamente com o Tirol Meridional (Província Autônoma de Bolzano). Hoje a região é conhecida como Trentino Alto Ádige, uma região autônoma ligada não mais à Áustria, mas sim a Itália.

                        Em relação à religiosidade dos imigrantes trentinos ao se transferir para o Brasil, trouxeram consigo sua cultura, seu modo de se relacionar com o meio que o circundava: das pequenas vilas trentinas, onde a religião era cultivada intensamente. Os valores religiosos foram importantíssimos para ajudar a sublimar o meio que lhes era hostil.

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