O
Vater Hofer ou Capitàn Barbón - O herói do Tirol
Estas medidas descontentaram
profundamente a população tirolesa fortemente apegada a seus valores e
tradições, via-se ameaçada pelos bávaros que tinham interesse antigo pelo
Tirol. Incentivados pela nobreza (coroa austríaca) e pelo clero, principalmente
os padres capuchinhos, a sublevação tirolesa de 1809 contra a invasão
napoleônica surgiu com a não aceitação
do novo governo e das ideias trazidas pela ocupação franco-bávara e marcou na
história como a primeira grande baixa do poderio napoleônico na Europa.
Animados pelo sentimento que podemos
chamar de patrióticos, para as milícias tirolesas seu maior significado não
estava no descontentamento popular frente à invasão estrangeira. De certa
forma, conviviam bem com as dominações estrangeiras. Para os tiroleses tratava-se de uma contra revolução, os
motivos reais se baseavam na reação conservadora, enraizada no tradicionalismo
católico dos tiroleses e no espírito de autonomia regional.
A revolta contra Napoleão simbolizava
uma Guerra Santa, na qual o inimigo não era somente uma ameaça estrangeira, mas
assumia uma representação diabólica, contrária às leis de ordem natural e da
moral cristã.
Os
tiroleses venceram duas batalhas contra as tropas francesas e bávaras. Andreas
Hofer era membro da companhia de
atiradores de Merano e logo alcançou o cargo de comandante, foi um de seus
lideres e chefiou as tropas de atiradores (chefe supremo), em alemão Schutzen,
em trentino Sìzzeri. Hofer inspirava confiança e segurança aos combatentes. Os
rebeldes tiroleses derrotaram as tropas franco-bávaras na Batalha de Bergisel,
nos arredores de Innsbruck, que ocorreu entre os dias 25 a 29 de maio de 1809,
sendo nomeado um intendente austríaco para governar o Tirol.
Neste
mesmo ano de 1809, Napoleão derrotou novamente as tropas austríacas na Batalha
de Wagram e a região do Tirol mais uma vez foi cedida à Baviera que era aliada
da França, que ocupou a cidade de Innsbruck, a capital do Tirol, militarmente.
Andreas Hoffer e os Schutzen (atiradores). De Franz Defregger - Tiroler Landesmuseum Ferdinandeum, Public Domain. Imagem: commons.vikimédia.
O
governo de Viena estava nas mãos de Napoleão, mas com o apoio do clero e o
auxílio do irmão do Imperador, o arquiduque da Áustria Johann Von Habsburg
(1782-1859), que inicialmente apoiou os tiroleses com auxílio financeiro e
militar, venceram várias batalhas em 1809. Com a vitória sobre as tropas
franco-bávaras nas Batalhas de Bergisel os tiroleses retomaram a capital
Innsbruck do domínio bávaro e expulsaram as tropas napoleônicas. Tombaram
nessas batalhas mais de 4 mil voluntários trentinos.
Andreas Hofer se declara comandante
imperial do Tirol. Os governantes bávaros haviam fugido e o governo austríaco
não tinha nomeado um governante. O novo governo provisório é de notável cunho
cristão. Por apenas dois meses Hofer governou o Tirol em nome do imperador da
Áustria.
O
Imperador austríaco havia prometido que a Áustria não abandonaria o Tirol, mas
em outubro de 1809 as esperanças de Hofer foram destruídas, em novo tratado
entre a Áustria e a França, novamente o Tirol foi cedido à Baviera. Os
franceses com a ajuda da Baviera infligiram derrotas sucessivas ao povo tirolês
e estes entregaram as armas e se renderam em novembro de 1809, após a promessa
de anistia oferecida por Napoleão Bonaparte. Hofer retirou-se para o vale onde
residia em San Leonardo.
Ao
perceber a traição do Imperador austríaco, Hofer ficou transtornado e
arquitetou uma reação contra as tropas franco-bávaras. Liderou a batalha final
em Bergisel, onde os tiroleses foram massacrados e se renderam.
Andreas
Hofer escondeu-se nas montanhas do Tirol. Os franceses ofereceram uma
recompensa de 1.500 florins pela sua captura. Em seu esconderijo, nas montanhas
alpinas fazia orações, meditava e ofereceu seu sofrimento pela salvação de sua
alma e pela dor dos que morreram pelo Tirol.
Andreas
Hofer, sem apoio de Viena, foi traído por seu vizinho e companheiro de ideais,
Franz Raffl, pelo valor da recompensa, que revelou seu esconderijo aos
franceses. Hofer foi capturado por tropas francesas em 28 de janeiro de 1810 e
foi enviado prisioneiro para Mântua (Mantova) na Itália para ser julgado e
depois foi executado por um pelotão de fuzilamento no dia 20 de fevereiro de
1810, por ordem de Napoleão Bonaparte que teria dito: “que era para dar-lhe um
julgamento justo e depois matá-lo”.
O dia 20 de fevereiro, dia da morte de
Andreas Hofer, é particularmente especial em toda a região do Tirol, nesta data
comemora-se a figura do importante personagem que colaborou para mudar o curso
da história europeia e mundial nos séculos XIX e XX.
Como consequência da derrota dos
tiroleses, a porção norte do Tirol retornou ao domínio bávaro e a parte sul (o
trentino) foi entregue ao Reino da Itália de Napoleão Bonaparte. Esse período
marcou o início da disputa italiana pela região tirolesa, sobretudo na área
trentina.
Em 1810 o Tirol Meridional, assim
chamado pelas autoridades que dominavam o Trentino, passou ao controle do Reino
Francês, um domínio pessoal do próprio Napoleão.
Com
a derrota de Napoleão na Batalha de Waterloo (1815), os países vencedores, numa
decisão do Congresso de Viena em 07/04/1815, resolvem restabelecer o antigo
regime desmontado por Napoleão, determinando que a região do Tirol, abrangendo
o Trentino retorne ao Império Austríaco.
Em
1816 os Principados Episcopais do Tirol, Trento e Bressanonne passam das mãos do clero para as mãos dos
políticos leigos e são chamados respectivamente de Tirol Setentrional (de fala
alemã) e Tirol Meridional (de fala italiana), permanecendo assim por mais de um
século.
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