quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Família Rampanelli - Capítulo VI - O Vater Hofer ou Capitán Barbón - O herói do Tirol

 

O Vater Hofer ou Capitàn Barbón - O herói do Tirol

            Estas medidas descontentaram profundamente a população tirolesa fortemente apegada a seus valores e tradições, via-se ameaçada pelos bávaros que tinham interesse antigo pelo Tirol. Incentivados pela nobreza (coroa austríaca) e pelo clero, principalmente os padres capuchinhos, a sublevação tirolesa de 1809 contra a invasão napoleônica  surgiu com a não aceitação do novo governo e das ideias trazidas pela ocupação franco-bávara e marcou na história como a primeira grande baixa do poderio napoleônico na Europa.

            Animados pelo sentimento que podemos chamar de patrióticos, para as milícias tirolesas seu maior significado não estava no descontentamento popular frente à invasão estrangeira. De certa forma, conviviam bem com as dominações estrangeiras.  Para os tiroleses  tratava-se de uma contra revolução, os motivos reais se baseavam na reação conservadora, enraizada no tradicionalismo católico dos tiroleses e no espírito de autonomia regional.

            A revolta contra Napoleão simbolizava uma Guerra Santa, na qual o inimigo não era somente uma ameaça estrangeira, mas assumia uma representação diabólica, contrária às leis de ordem natural e da moral cristã.

                        Os tiroleses venceram duas batalhas contra as tropas francesas e bávaras. Andreas Hofer  era membro da companhia de atiradores de Merano e logo alcançou o cargo de comandante, foi um de seus lideres e chefiou as tropas de atiradores (chefe supremo), em alemão Schutzen, em trentino Sìzzeri. Hofer inspirava confiança e segurança aos combatentes. Os rebeldes tiroleses derrotaram as tropas franco-bávaras na Batalha de Bergisel, nos arredores de Innsbruck, que ocorreu entre os dias 25 a 29 de maio de 1809, sendo nomeado um intendente austríaco para governar o Tirol.

                        Neste mesmo ano de 1809, Napoleão derrotou novamente as tropas austríacas na Batalha de Wagram e a região do Tirol mais uma vez foi cedida à Baviera que era aliada da França, que ocupou a cidade de Innsbruck, a capital do Tirol, militarmente.



                     Mais uma vez Andreas Hofer (1767-1810), que era conhecido com Vater Hofer (pai Hofer) entre os tiroleses de língua alemã e de capitàn barbón (capitão barbudo) pelos tiroleses trentinos, toma a frente. Andreas era o único filho homem de seis irmãos, ficou órfã de mãe e pai aos 7 anos de idade, foi criado por sua irmã mais velha, Anna Hofer. Era um taberneiro, nascido em San Leonardo no Tirol de língua alemã, comerciante de cavalos, uma figura carismática e singular pela grande estatura e longa barba negra, líder popular e extremamente religioso. Andreas conhecia muito bem o Tirol e sua população. Falava o alemão e o italiano, pois tinha morado na região trentina durante a sua juventude e, assim conseguiu reunir para a resistência popular os camponeses de todos os vales tiroleses, destes 18 mil voluntários eram trentinos, entre eles outra grande heroína da resistência tirolesa, foi a trentina Giuseppina Negrelli, nascida na região de Primiero perto de Cembra.

Andreas Hoffer e os Schutzen (atiradores). De Franz Defregger - Tiroler Landesmuseum Ferdinandeum, Public Domain. Imagem: commons.vikimédia.

                        O governo de Viena estava nas mãos de Napoleão, mas com o apoio do clero e o auxílio do irmão do Imperador, o arquiduque da Áustria Johann Von Habsburg (1782-1859), que inicialmente apoiou os tiroleses com auxílio financeiro e militar, venceram várias batalhas em 1809. Com a vitória sobre as tropas franco-bávaras nas Batalhas de Bergisel os tiroleses retomaram a capital Innsbruck do domínio bávaro e expulsaram as tropas napoleônicas. Tombaram nessas batalhas mais de 4 mil voluntários trentinos.

                        Andreas Hofer se declara comandante imperial do Tirol. Os governantes bávaros haviam fugido e o governo austríaco não tinha nomeado um governante. O novo governo provisório é de notável cunho cristão. Por apenas dois meses Hofer governou o Tirol em nome do imperador da Áustria.

                        O Imperador austríaco havia prometido que a Áustria não abandonaria o Tirol, mas em outubro de 1809 as esperanças de Hofer foram destruídas, em novo tratado entre a Áustria e a França, novamente o Tirol foi cedido à Baviera. Os franceses com a ajuda da Baviera infligiram derrotas sucessivas ao povo tirolês e estes entregaram as armas e se renderam em novembro de 1809, após a promessa de anistia oferecida por Napoleão Bonaparte. Hofer retirou-se para o vale onde residia em San Leonardo.

                        Ao perceber a traição do Imperador austríaco, Hofer ficou transtornado e arquitetou uma reação contra as tropas franco-bávaras. Liderou a batalha final em Bergisel, onde os tiroleses foram massacrados e se renderam.

Cenas da Batalha de Bergisel/Innsbruck no Tirol em 1809 contra os exércitos franco-bávaros. Imagem: Museu  Das Tirol  Panorama.

                        Andreas Hofer escondeu-se nas montanhas do Tirol. Os franceses ofereceram uma recompensa de 1.500 florins pela sua captura. Em seu esconderijo, nas montanhas alpinas fazia orações, meditava e ofereceu seu sofrimento pela salvação de sua alma e pela dor dos que morreram pelo Tirol.

                        Andreas Hofer, sem apoio de Viena, foi traído por seu vizinho e companheiro de ideais, Franz Raffl, pelo valor da recompensa, que revelou seu esconderijo aos franceses. Hofer foi capturado por tropas francesas em 28 de janeiro de 1810 e foi enviado prisioneiro para Mântua (Mantova) na Itália para ser julgado e depois foi executado por um pelotão de fuzilamento no dia 20 de fevereiro de 1810, por ordem de Napoleão Bonaparte que teria dito: “que era para dar-lhe um julgamento justo e depois matá-lo”.

                        O dia 20 de fevereiro, dia da morte de Andreas Hofer, é particularmente especial em toda a região do Tirol, nesta data comemora-se a figura do importante personagem que colaborou para mudar o curso da história europeia e mundial nos séculos XIX e XX.

                        Como consequência da derrota dos tiroleses, a porção norte do Tirol retornou ao domínio bávaro e a parte sul (o trentino) foi entregue ao Reino da Itália de Napoleão Bonaparte. Esse período marcou o início da disputa italiana pela região tirolesa, sobretudo na área trentina.

            Em 1810 o Tirol Meridional, assim chamado pelas autoridades que dominavam o Trentino, passou ao controle do Reino Francês, um domínio pessoal do próprio Napoleão.

            Com a derrota de Napoleão na Batalha de Waterloo (1815), os países vencedores, numa decisão do Congresso de Viena em 07/04/1815, resolvem restabelecer o antigo regime desmontado por Napoleão, determinando que a região do Tirol, abrangendo o Trentino retorne ao Império Austríaco.

                        Em 1816 os Principados Episcopais do Tirol, Trento e Bressanonne  passam das mãos do clero para as mãos dos políticos leigos e são chamados respectivamente de Tirol Setentrional (de fala alemã) e Tirol Meridional (de fala italiana), permanecendo assim por mais de um século.

Nenhum comentário:

Postar um comentário