As histórias de Natal
e o primeiro Natal da Família Rampanelli no Brasil
A história do nascimento de Jesus e as histórias do Natal ao se misturarem, viraram lendas. A chegada dos imigrantes a Isabela na véspera do Natal de 1875 foi muito significativa. Num exercício de imaginação, vamos colocar a história desses imigrantes e da família Rampanelli no mesmo contexto das histórias de Natal.
Histórias de Natal (HN) - Jesus nasceu numa
manjedoura em Belém, pois não havia lugar para ele numa hospedaria.
História dos Imigrantes (HI) - Os imigrantes chegam a Dona Isabel no dia 24.12.1875 e montam seus abrigos com lençóis debaixo de seculares
araucárias, pois não havia uma hospedaria para eles.
HN - A fuga de José e Maria
com Jesus para o Egito foi para escapar de uma sentença de morte.
HI - A vinda dos imigrantes para
a América (Brasil) foi uma fuga da fome, da miséria e das doenças, também foi
para escapar de uma sentença de morte.
HN - O Natal é considerado
uma festa pagã, o verdadeiro motivo era para celebrar o solstício de inverno,
no dia 21 de dezembro, no hemisfério norte. Dessa madrugada em diante, o sol
fica cada vez mais tempo no céu, até o auge do verão. É o ponto de virada das
trevas para a luz: “o renascimento do sol”.
HI - O camponês europeu
vivia num mundo onde a fome, a miséria e as doenças ameaçavam a sua
sobrevivência. A vinda para um novo mundo significava a saída de um mundo de
trevas para um mundo de luz, de renascimento e de esperança.
HN - A árvore de Natal é uma
das mais populares tradições associadas à celebração do Natal. É normalmente um
pinheiro, como parte da tradição, e enfeita-se a árvore com bolas coloridas e
outros adornos natalinos, como o sino de Natal.
HI - Os imigrantes na noite
de Natal, estavam no centro de uma mata virgem, onde araucárias (pinheiros)
seculares lhes serviam de teto; tinham a sua disposição muitas árvores de Natal
oferecidas pela natureza; seus adornos eram belíssimos e mais uma vez foram
providenciados pela mãe natureza, que mandou
as estrelas e a lua brilharem no céu para os imigrantes, da mesma forma
que brilharam para o menino Jesus em Belém. Repetindo-se em Isabela a paisagem
que encantou Lutero, o monge alemão, no século XVI, ao voltar para casa numa
noite gelada na Alemanha:
[...] olhando para o céu através de uns pinheiros que
cercavam a trilha, viu-o intensamente estrelado, parecendo-lhe infinitos
diamantes encimando a copa das árvores. Tomado pela beleza daquilo, decidiu
arrancar um galho para levar para casa,
onde foi decorado e iluminado com velas acesas por ele, sua esposa e filhos (JUCÁ, Felipe,2020).
Surgiu, assim, o costume de ter-se na sala de casa um
pinheiro decorado.
Imagem
apenas ilustrativa: Lua cheia vista de dentro de uma mata de araucárias
O silêncio dos sinos no primeiro Natal na
nova pátria
Não
havia ainda Igrejas na Isabela, portanto os sinos no Natal fizeram muita falta
aos imigrantes e ao casal Giuseppe Rampanelli e Ângela Nicolodi e aos seus
filhos, as crianças, Luigi (14 anos)
Pietro (9 anos), Giovanni (5 anos) e Giuditta (1 ano), pois o sino se
revestia de uma grandeza simbólica para os imigrantes italianos e
tiroleses austríacos. A linguagem melódica sintetizava e expressava os valores
culturais, sociais e espirituais dos imigrantes. Sempre foi presença
obrigatória no dia a dia do camponês no além-mar.
O
imigrante ao chegar à nova pátria sentiu-se abandonado na imensidão da floresta
virgem, e os sinos de outrora haviam silenciado, o que fez aumentar a sua
solidão e a saudade de seus parentes, vizinhos e amigos da antiga pátria. Além
do cansaço pela longa viagem, estava no ar a desilusão, a frustração por não
mais ouvir o ecoar dos sinos. Suas
badaladas tinham um grande significado ao imigrante: além de anunciar o
nascimento de Jesus, representava o viver, o reviver, o reacender esperanças e
sentir-se em comunhão com todos. E acima de tudo, significava a quebra do
silêncio e da solidão, tão assustadores e massacrante na nova pátria.
Cooperar
ou Fracassar
Os imigrantes superaram todas essas dificuldades através da solidariedade e da cooperação.
Nos primeiros tempos, nas colônias, a cooperação praticada como forma de vida cooperativa foi quase uma imposição das necessidades de enfrentar as dificuldades de sobrevivência. Era cooperar ou fracassar. Essa cooperação se fazia sentir mais fortemente nas doenças, pois hospitais e médicos eram raros e distantes.
Também, como todos os imigrantes que aqui chegaram, a família de Giuseppe e Ângela teve as suas desilusões. Tiveram que enfrentar os desafios e o fizeram com todas as forças. Finalmente se adaptaram e venceram.
Nota do autor: Extraído do livro: Construtores de História 8 - Famílias italianas do Brasil, de Luiz Rampanelli, EST Edições, Porto Alegre, 2024, p. 170-172.
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