sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Família Rampanelli - Capítulo XIX - 1ª Parte - A chegada da família na Colônia Dona Isabel

                                             Colônia Dona Isabel, 24 de dezembro de 1875

             A chegada à Colônia Dona Isabel é relatada por Julio Lorenzoni, escritor e imigrante italiano aqui chegado em 1883, através de breve resenha histórica feita para o volume comemorativo do cinquentenário da imigração italiana (1925) onde informa:

“que os primeiros imigrantes, estabelecidos na Estrada Geral de Dona Isabel, ali chegaram em 24 de dezembro de 1875”. [...] “que consta a seguinte lista dos imigrantes: Isidoro Agostini, Cristovão Ambrosi, João Batista Bata, Leonardo Copat, Domingos Gasperi, Pedro Dorigatti, Antonio Enel, Abraão Gado, José Giacomoni, Antônio Giovanini, João Giovanella, José Lunedi, Tomaz Pintarelli, Nicolau Pozza, José Rampanelli, Carlos Ranzi, Feliz Refatti, André Slomb, Domingos Tomazinni e Mateus Valduga, todos do Trentino” (LORENZONI, 1925, p. 126).

            Os nomes desta lista foram aportuguesados pelo autor. Os nomes originais em italiano encontram-se na placa comemorativa aos 125 anos da imigração. 
 











Placa em homenagem às vinte famílias de imigrantes pioneiros que  fundaram a Colônia Dona Isabel em 1875, hoje a cidade de Bento Gonçalves. Os descendentes do imigrante tirolês, Luiz Rampanelli (o autor) à direita e Iury Magalhães Rampanelli à esquerda (filho de Luiz), descendentes brasileiros de 4ª e 5ª geração, apontam para o nome do imigrante tiroles Giuseppe Rampanelli. Fonte: Acervo pessoal do autor.









A Colônia Dona Isabel (Isabela)

            As histórias sobre os primórdios da colônia Dona Isabel causam tremores, em função de seu isolamento. Outras tentativas anteriores de colonização fracassaram, como a de 1868, com alguns colonos alemães que arriscaram o desmatamento daquela área da Província, esquecida no meio das florestas e habitada por animais ferozes, mas, todos acabaram retrocedendo. Somente em 1874, nova tentativa foi realizada, agora com 48 franceses, assistidos por vários auxílios do governo provincial, mas, estes também se retiraram logo que esses auxílios terminaram.

                            Croqui da divisão territorial colonial do NE do Rio Grande do Sul (Brasil)  

                                 Mapas das primeiras colônias de imigrantes no Rio Grande do Sul. Fonte: Adaptado de Gallo (1976) 

Cruzinha

                        A Colônia Dona Isabel (Bento Gonçalves), já era conhecida em 1870, quando da sua criação pelo Governo Imperial, como Região da Cruzinha, devido a uma cruz rústica, cravada sobre a sepultura de um tropeiro, era o lugar onde os tropeiros faziam suas paradas para descanso, durante seus percursos, que eram realizados de duas a três vezes ao ano, entre os campos de Vacaria e São João de Monte Negro para troca de mercadorias. Segundo o imigrante Julio Lorenzoni essa cruz em 1884 ainda estava colocada, debaixo de uma espinheira em frente ao lote número 15 da Estrada Geral de propriedade do colono tirolês Mateus Valduga.  Foi exatamente neste lugar que aportaram os pioneiros imigrantes tiroleses, entre eles a família de meu bisavô Giuseppe Rampanelli.






A seta indica o local exato da sepultura com a cruz rústica que deu o nome a região da Cruzinha, hoje Bento Gonçalves. A imagem é de abril de 1903.  Atualmente esse local é ocupado pela Praça Walter Galassi. Acervo: Museu do Imigrante de Bento Gonçalves-RS.






Praça Centenário (atual Walter Galassi), Bento Gonçalves – Ano de 1928. Local exato onde se localizava a cruzinha rústica sobre a sepultura do tropeiro, ficando a região conhecida como Cruzinha. Acervo: Museu do Imigrante de Bento Gonçalves-RS.



Inauguração do monumento "A Cruz" em homenagem ao antigo nome da cidade, Largo da Cruzinha.  Foi transferida para um novo local e está situada na Rua Marechal Deodoro desde 26/09/1926.Acervo Eliana Casagrande Lorenzini.

            A Colônia Dona Isabel teve o seu nome atribuído à filha de D. Pedro II, herdeira do trono brasileiro, sendo fundada em 1870 pelas autoridades provinciais e transferida em 1876 ao governo central. Possuía uma superfície de 16 léguas quadradas (6000mx6000m), com relevo montanhoso de solo muito fértil próprio para o cultivo de trigo, centeio e milho, devido à elevada altitude (540m), muito frio, com queda de neve anual. O clima e o relevo lembravam as terras de origem dos imigrantes.

                        Os imigrantes pioneiros adaptaram o nome em português de Colônia Dona Isabel ao modo de dizer italiano, chamando-a simplesmente de Isabela.

Família de Dom Pedro II, Imperador do Brasil. Da esquerda para a direita: Conde D'Eu (genro), Dom Pedro II, Teresa (esposa) e Isabel (filha). A filha Isabel e seu marido Conde D’Eu deram o nome as duas colônias pioneiras a receber imigrantes, hoje Bento Gonçalves e Garibaldi.

Fonte: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Alberto_Henschel_-_A_Familia_Imperial.jpg

A cidade branca

            Segundo Lorenzoni, foi examente junto a cruzinha, no dia 24 de dezembro de 1875, véspera de natal, no centro do espesso bosque, que os imigrantes provenientes do Trento, pela falta de barracões para protegê-los das intempéries, do sol causticante e da umidade da noite, instalaram sua primeira pousada, armando suas tendas com lençóis brancos, trazidos da Áustria, debaixo de seculares araucárias. Esse primeiro assentamento ficou conhecido como a cidade branca ou acampamento branco.

            No dia seguinte os colonos começaram a desbastar e limpar o terreno para construir as cabanas provisórias, que os deixassem abrigados das intempéries. Apesar de serem feitas com paus rústicos e cobertas com folhas de palmeiras, davam-lhes a sensação de se acharem defendidos dos perigos da floresta. Grandes fogueiras eram acesas dia e noite naquela primeira praça, queimando árvores, galhos secos, como forma de afastar as feras que andavam por perto, ameaçando atacar, principalmente à noite alguma tenda.

                             Imigrantes tiroleses construindo as primeiras choupanas. https://otrentino.com.br/fotos-historicas

Em pouco tempo novas caravanas de imigrantes iam chegando e todos se acomodavam naquele largo que seria futuramente a sede da Colônia Dona Isabel. Todos esses colonos trabalhavam diariamente desbastando o bosque e preparando o local e a madeira para construir os barracões, que os alojassem e aos outros imigrantes que fossem chegando, sempre orientados nessas tarefas pelo capitão João Jacinto Ferreira nomeado pelo Governo Imperial para diretor da Colônia.  O diretor também providenciou uma ração de alimentos que consistia de: carne seca, feijão, arroz, toucinho, sal, biscoitos, café ou mate e açúcar. A falta de estradas dificultava o transporte de tudo, as provisões começavam a escassear e, no inverno alguns quase morreram de fome no meio da floresta. A salvação foram os pinhões, comparados pelos imigrantes com as castanhas que na Europa eram comuns. Por muitos dias foram obrigados a se alimentar exclusivamente de pinhões. 


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