Regime patriarcal – Nem sempre o
carinho é afeto
Recebi
vários relatos de familiares que descreviam a severidade dos pais e avós, às
vezes até de violência praticada contra cônjuges, filhos e netos, na maioria
das vezes pelo elemento masculino do casal. A bengala era um instrumento utilizado para a
prática da violência doméstica e odiado
pelos filhos ou netos que eram o principal alvo.
Deixo
aqui de descrevê-los individualmente, porque vejo estes fatos como um fenômeno
coletivo, arraigado culturalmente ao imigrante, dentro de um contexto de tempo
e espaço, obviamente, descontados os causados pelo efeito do vinho, embora
também esse possa ser visto como um elemento cultural do imigrante
italiano/tirolês, pois além de produzi-lo, o bebiam sem cerimônias.
Existia dentro das
famílias dos imigrantes, uma hierarquia de divisão de tarefas muito clara,
organização essa trazida de além-mar, em que já constituía o núcleo de
produção, nos modelos antigos da família patriarcal, com muitos filhos, genros,
noras e demais parentes. O pai era a autoridade maior, aquele que determinava o serviço, administrava os bens e
o dinheiro da família. Cabia a mãe e esposa o trabalho do lar, cuidar dos
filhos pequenos, além de acompanhar o marido na roça, sempre que fosse
possível. Se uma esposa assumisse o comando da família, os comentários na
vizinha eram certos, tipo: “la cesa la zé pi alta del campanile” (A igreja é
mais alta que o campanário).
Mas levando em conta todo o contexto
apresentado, não era muito comum nas famílias dos imigrantes que os pais
demonstrassem afeto e carinho aos filhos, nem aos cônjuges entre si. Pareceria
quase que o afeto diminuiria a autoridade dos pais. Para amar e educar os
filhos o essencial era a severidade nas exigências, o trabalho, o castigo e
poucas palavras. O patriarcalismo familiar parecia que só se salvasse se
distante do beijo, do abraço, do afeto, dos gestos e das palavras. Hoje os
netos, bisnetos e tataranetos dos imigrantes recuperaram esse tempo perdido e
os mais resistentes cederam ao fato de que o carinho também é afeto e demonstração
de amor.
Na imagem: Luigi Giacomo Salvatore
Rampanelli (de chapéu) e sua esposa Costanza Pozza (de preto), o filho José Antônio Rampanelli (à esquerda) e sua
nora Thereza Cartelli (de branco), as netas Maria Guerina (de pé) e Rozina Rampanelli (no colo). Anos 1920. Acervo de Ilda Rampanelli.
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