quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Histórias da Família Rampanelli 4 - Nem sempre o carinho é afeto.

 

Regime patriarcal – Nem sempre o carinho é afeto

                        Recebi vários relatos de familiares que descreviam a severidade dos pais e avós, às vezes até de violência praticada contra cônjuges, filhos e netos, na maioria das vezes pelo elemento masculino do casal.  A bengala era um instrumento utilizado para a prática da violência  doméstica e odiado pelos filhos ou netos que eram o principal alvo.

                        Deixo aqui de descrevê-los individualmente, porque vejo estes fatos como um fenômeno coletivo, arraigado culturalmente ao imigrante, dentro de um contexto de tempo e espaço, obviamente, descontados os causados pelo efeito do vinho, embora também esse possa ser visto como um elemento cultural do imigrante italiano/tirolês, pois além de produzi-lo, o bebiam sem cerimônias.

                        Existia dentro das famílias dos imigrantes, uma hierarquia de divisão de tarefas muito clara, organização essa trazida de além-mar, em que já constituía o núcleo de produção, nos modelos antigos da família patriarcal, com muitos filhos, genros, noras e demais parentes. O pai era a autoridade maior, aquele que  determinava o serviço, administrava os bens e o dinheiro da família. Cabia a mãe e esposa o trabalho do lar, cuidar dos filhos pequenos, além de acompanhar o marido na roça, sempre que fosse possível. Se uma esposa assumisse o comando da família, os comentários na vizinha eram certos, tipo: “la cesa la zé pi alta del campanile” (A igreja é mais alta que o campanário).

             Mas levando em conta todo o contexto apresentado, não era muito comum nas famílias dos imigrantes que os pais demonstrassem afeto e carinho aos filhos, nem aos cônjuges entre si. Pareceria quase que o afeto diminuiria a autoridade dos pais. Para amar e educar os filhos o essencial era a severidade nas exigências, o trabalho, o castigo e poucas palavras. O patriarcalismo familiar parecia que só se salvasse se distante do beijo, do abraço, do afeto, dos gestos e das palavras. Hoje os netos, bisnetos e tataranetos dos imigrantes recuperaram esse tempo perdido e os mais resistentes cederam ao fato de que o carinho também é afeto e demonstração de amor.









Na imagem: Luigi Giacomo Salvatore Rampanelli (de chapéu) e sua esposa Costanza Pozza (de preto), o filho José Antônio Rampanelli (à esquerda) e sua nora Thereza Cartelli (de branco), as netas Maria Guerina (de pé) e Rozina Rampanelli (no colo). Anos 1920. Acervo de Ilda Rampanelli.


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