A
distribuição dos lotes
Segundo
o escritor e imigrante italiano Júlio Lorenzoni em Memória Histórica (1927),
uma obra sobre a imigração, esses primeiros imigrantes provenientes do Tirol
Trentino foram assentados na Linha Geral
da Colônia Dona Isabel, onde a área de assentamento foi dividida em lotes
rurais, de 48 hectares cada um. Os lotes contrariamente ao que o governo
afirmava não foram doados, mas sim adquiridos pelos imigrantes, com prazo de 10
anos para quitação.
As
condições encontradas na Colônia Dona Isabel não correspondiam àquelas
amplamente divulgadas pelos agentes de emigração na Europa. Para Renzo Grosselli:
“os imigrantes chegavam nas colônias totalmente desinformados sobre o que encontrariam. Em seus sonhos havia uma casinha, mesmo modesta, e campos prontos para serem cultivados. Até o que traziam era inadequado a esta nova vida, desde as roupas até as ferramentas de trabalho” (GROSSELLI, 2008: P.355, apud FERREIRA).
O Lote - O começo na mata virgem
Colônia Dona Isabel, Janeiro de
1877.
A
família de meu bisavô Giuseppe é assentada no loteamento da Linha Geral da
Colônia Dona Isabel, lote de número 58 do lado oeste. O lote tinha uma
topografia muito variada, encostas com muita pedra, pequenas planícies com
terra pura e áreas improdutivas cobertas de rochas, o que dava mais trabalho
era a derrubada da mata virgem.
Os
lotes eram marcados em suas extremidades, isto é, nos quatro cantos, por pedras
fincadas no chão que serviam de marco divisório. Os lotes tinham em média
480.000m² ou em torno de 48 hectares, geralmente eram divididos entre dois
imigrantes, ficando para cada lote em torno de 25 hectares (242.000 m²), com
220 metros de frente por 1.100 metros de comprimento.
Cada
família pagou ao governo pelo lote de terra 200 mil réis, com prazo de 10 anos
para pagar, podendo se estender para 14 anos, com dois anos de carência e juros
de 11% ao ano. Recebiam um empréstimo do governo que era de 30 mil réis para
cada imigrante com mais de 12 anos e menos de 48 anos, com o mesmo prazo de
pagamento que era concedido ao lote.
O empréstimo para a família de Giuseppe deve ter sido de no mínimo 60 mil ou no máximo de 90 mil réis, porque apenas a nona Ângela e o filho Luigi se enquadravam na faixa de idade. O nono Giuseppe já tinha completado 48 anos.
Certificação da propriedade do lote de número 58 da Linha Estrada Geral Oeste, ano de 1897, pela Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves.
O
governo fornecia as sementes, geralmente milho e feijão e as ferramentas que
eram foices, machados, enxadas e serras para o primeiro cultivo e para a
construção das casas. Ficavam nos acampamentos (barracões) até a construção da
casa.
Estava
realizado o sonho da família de Giuseppe
Rampanelli, que era o sonho coletivo que marcou profundamente a vida de cada
imigrante, a perspectiva de uma propriedade.
O espaço das novas
colônias era completamente diferente do europeu, foi necessário um processo de
transição de vários anos para sair de uma condição de cumpridor de ordens, do
senhorio, dono das terras para se tornar o proprietário, senhor do seu destino.
Os colonos imigrantes só compreenderam essa responsabilidade depois de
começarem a pagar ao governo as primeiras parcelas do valor dos lotes e até os
receberem em definitivo, através da escrituração, o que para a família
Rampanelli só aconteceu em 1895, isto é 20 anos após a sua compra.
No
Rio Grande do Sul, ao contrário dos imigrantes que se estabeleceram em São
Paulo, chegar à propriedade foi relativamente fácil.
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