terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Família Rampanelli - Capítulo XX - 2ª Parte - A família Rampanelli recebe o lote de terras em janeiro de 1877.

 

A distribuição dos lotes

                        Segundo o escritor e imigrante italiano Júlio Lorenzoni em Memória Histórica (1927), uma obra sobre a imigração, esses primeiros imigrantes provenientes do Tirol Trentino  foram assentados na Linha Geral da Colônia Dona Isabel, onde a área de assentamento foi dividida em lotes rurais, de 48 hectares cada um. Os lotes contrariamente ao que o governo afirmava não foram doados, mas sim adquiridos pelos imigrantes, com prazo de 10 anos para quitação.

                        As condições encontradas na Colônia Dona Isabel não correspondiam àquelas amplamente divulgadas pelos agentes de emigração na Europa. Para  Renzo Grosselli:

“os imigrantes chegavam nas colônias totalmente desinformados sobre o que encontrariam. Em seus sonhos havia uma casinha, mesmo modesta, e campos prontos para serem cultivados. Até o que traziam era inadequado a esta nova vida, desde as roupas até as ferramentas de trabalho” (GROSSELLI, 2008: P.355, apud FERREIRA).

O Lote  - O começo na mata virgem

Colônia Dona Isabel, Janeiro de 1877.

                        A família de meu bisavô Giuseppe é assentada no loteamento da Linha Geral da Colônia Dona Isabel, lote de número 58 do lado oeste. O lote tinha uma topografia muito variada, encostas com muita pedra, pequenas planícies com terra pura e áreas improdutivas cobertas de rochas, o que dava mais trabalho era a derrubada da mata virgem.

                        Os lotes eram marcados em suas extremidades, isto é, nos quatro cantos, por pedras fincadas no chão que serviam de marco divisório. Os lotes tinham em média 480.000m² ou em torno de 48 hectares, geralmente eram divididos entre dois imigrantes, ficando para cada lote em torno de 25 hectares (242.000 m²), com 220 metros de frente por 1.100 metros de comprimento.

                        Cada família pagou ao governo pelo lote de terra 200 mil réis, com prazo de 10 anos para pagar, podendo se estender para 14 anos, com dois anos de carência e juros de 11% ao ano. Recebiam um empréstimo do governo que era de 30 mil réis para cada imigrante com mais de 12 anos e menos de 48 anos, com o mesmo prazo de pagamento que era concedido ao lote.

                        O empréstimo para a família de Giuseppe deve ter sido de no mínimo 60 mil ou no máximo de 90 mil réis, porque apenas a nona Ângela e o filho Luigi se enquadravam na faixa de idade. O nono Giuseppe já tinha completado 48 anos.





















Giuseppe Rampanelli era proprietário rural do lote de número 58, da Linha Geral Oeste, de número de ordem 336 do registro de contribuinte (impostos) no ano de 1897, na página 9 da Comarca Municipal da Villa Bento Gonçalves, hoje Município de Bento Gonçalves-RS.  Este lote foi adquirido pela família e somente teve seu registro definitivo após a quitação do mesmo  em 1895,  isto é,  20 anos após a sua compra.


 


Certificação da propriedade do lote de número 58 da Linha Estrada Geral Oeste, ano de 1897, pela Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves.


                        O governo fornecia as sementes, geralmente milho e feijão e as ferramentas que eram foices, machados, enxadas e serras para o primeiro cultivo e para a construção das casas. Ficavam nos acampamentos (barracões) até a construção da casa.

                        Estava realizado o sonho da família  de Giuseppe Rampanelli, que era o sonho coletivo que marcou profundamente a vida de cada imigrante, a perspectiva de uma propriedade.

                        O espaço das novas colônias era completamente diferente do europeu, foi necessário um processo de transição de vários anos para sair de uma condição de cumpridor de ordens, do senhorio, dono das terras para se tornar o proprietário, senhor do seu destino. Os colonos imigrantes só compreenderam essa responsabilidade depois de começarem a pagar ao governo as primeiras parcelas do valor dos lotes e até os receberem em definitivo, através da escrituração, o que para a família Rampanelli só aconteceu em 1895, isto é 20 anos após a sua compra.

Representação da localização do lote de terras de nº 58 da Estrada Geral Oeste, antiga e primeira propriedade de Giuseppe Rampanelli. Atualmente o lote encontra-se na Linha Eulália, entre o Aeroclube de Bento Gonçalves e o Campo de Futebol de Linha Eulália.  Esse lote tinha o tamanho total de 48.3907 hectares e era dividido com o colono imigrante Antônio Dalponti. Adaptado de Colônia Hauser.


Essa imagem nos mostra, uma parte do lote de terras que pertencia a família de Giuseppe Rampanelli. A Igreja e a estrada foram construídos dentro do lote do bisavô. Atualmente encontra-se inserido na área geográfica da Linha Eulália em Bento Gonçalves/RS. Essa região faz parte de uma rota turística rural conhecida como “Encantos da Linha Eulalia”.Fonte: Acervo Pessoal do autor.

Luiz Rampanelli (o autor) e sua irmã Tereza Rampanelli em visita, em 2021,  a área de terras pertencente  à família do bisavô Giuseppe Rampanelli. Fonte: Acervo pessoal do autor.

                        No Rio Grande do Sul, ao contrário dos imigrantes que se estabeleceram em São Paulo, chegar à propriedade foi relativamente fácil. 


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