Colônia Dona Isabel - As primeiras moradias
Quando chegavam ao lote, tinham que
desbravá-lo, para erguer a primeira moradia, o seu lar brasileiro, que era bem
rústica, devido aos poucos e precários recursos que dispunham. Consistia de
quatro colunas feitas de troncos de árvores, com três metros de altura, com
tábuas abertas por cunhas que cobriam as laterais e o telhado era coberto com
capim. Na falta de ferramentas para trabalhar a madeira, construíam com
paus-a-pique, cercavam as casas com bambus e as cobriam com capim ou folhas de
caeté, às vezes utilizavam lençóis a certa altura do chão para se protegerem de
animais silvestres, essas moradias eram construídas no início do lote junto à
estrada principal, ou próximas de uma fonte de água.
Agora,
já provisoriamente instalados e abrigados, começaram a lutar pela
sobrevivência, abrindo as primeiras clareiras na mata e fazendo as primeiras
roças para plantar batatas, aipim e milho, entre outras culturas. Em poucos
anos de trabalho árduo, aproveitando os abundantes recursos que a natureza lhes
oferecia gratuitamente, principalmente a madeira, uma vez que a região era toda
coberta de matas, foram trabalhando manualmente a madeira para construir uma
pequena casa, bem modesta, mas que os protegeria das intempéries e dos animais.
Fonte: Arquivo Histórico Juarez Miguel Illa Font, Erechim/RS.
A casa: [...] ”totalmente de madeira, desde os alicerces até o telhado, inclusive aberturas, portas e janelas”.
O escritor Hermes Vigne, descendente de imigrantes italianos, com sua grande sensibilidade, consegue buscar e captar na oralidade familiar, e nos deixar uma perfeita descrição, em sua obra “Os Vigne”, de como eram as residências dos colonos imigrantes, que agora transcrevemos:
[...] “quase a
totalidade das casas na época, construídas com cepos e baldrames (i sochi e i
sataroni) de torras de angico ou outro cerne de madeira. Além da cozinha
separada, tinham o porão (cantina), corpo da casa e sobrado, ou sótão
(su-de-sora)”.
O porão ou cantina: [...] “era o local destinado para guardar as ferramentas, os arreios dos cavalos, o pilão para socar o arroz e o milho para canjica ou quirera, as tuias para guardar as sementes de feijão, de trigo, de arroz e outras, bem como os vasilhames para o vinho”.
Fonte da imagem: Livro da família Luzi
O corpo da casa (entre o sobrado e o
porão): [...] “era o local dividido em compartimentos: uma sala, um quarto para
o casal e outro para as filhas mulheres. Quando as moças tivessem namorado,
normalmente ficavam na sala. Era a parte mais social da residência”.
Início
da 2ª parte
O sobrado:
[...]”também era dividido em compartimentos. Era o local destinado aos filhos
homens, caso sobrasse espaço, este era reservado à despensa”.
[...] “A cozinha
era feita junto a casa, mas separada por um corredor coberto e, regularmente
largo, o qual servia de sala de visitas em tempo de verão, ou descanso ao meio
dia e à noitinha. A separação da casa com a cozinha era alegada pelo perigo do
fogo, uma vez que o fogão era à lenha, ainda não era de ferro, mas um caixão de
madeira, com terra, pedra ou tijolos e uma chapa de ferro onde se punham as
panelas e chaleira para o cozimento da comida e o aquecimento da água”.
Os utensílios: [...] “uma lareira livre (fogão), sem chapa de ferro, com uma corrente pendurada sobre a lareira, com gancho na extremidade inferior para por as panelas (de ferro) para, sobre o fogo cozer os alimentos. Uma mesa feita de tábuas lascadas, uns bancos sem encosto, também de tábuas compridas, onde podia sentar várias pessoas. A pia, também de tábuas, colocadas logo fora da janela da cozinha”.
[...] ”As
louças, alguns pratos esmaltados, uma panela, uma chaleira e um bule, eram
colocados em prateleiras pregadas na parede, canecas esmaltadas, algumas
xícaras, concha, colheres, garfos, facas eram guardadas numa caixa, tudo
trazido da Itália”.
Fonte: https://www.facebook.com/parodievicentine
As roupas: [...]
“as melhores eram guardadas num baú, também vindo da Itália, e as demais eram
penduradas em pregos cravados nas paredes, ou em um varal de madeira, pregados
entre dois cantos do quarto (o varal para secar a roupa era de cipó tirado do
mato)”.
A água: [...]
“era trazida da fonte em um recipiente,
normalmente feito de madeira, de ferro ou de alumínio. A bacia para lavar as
mãos e o rosto era uma gamela de madeira, sendo que à noite servia também para lavar os pés, antes de ir para a
cama (banhos só nos finais de semana, na sanga ou no rio)”.
As camas (i
leti): [...] “eram feitos manualmente de madeira. Os colchões (i paioni) eram
feitos de um tecido grosso, normalmente algodão ou brim, comprados em metros,
ou em fardos, enchidos de palha de milho selecionada e picada para dar maciez e
conforto, constando de quatro furos (como se fossem quatro casas de botões
para, todas as manhãs, mexer a palha para deixar tudo bem fofinho. Os
travesseiros (i cussim), do mesmo tecido, cheio de penas de galinhas ou de
patos, preferencialmente tirados da região da barriga dessas aves para
torná-los mais macios e aconchegantes. Os lençóis (i nissioli, o linsioli) de
algodão e as cobertas (le straponte), para a época do frio, também eram de tecido
e, quando possível, de melhor qualidade, floreados, pois normalmente ficavam
mais a vista”.
A iluminação:
[...] “era feita de lampiões (i ciareti,
il feral) abastecidos com querosene, (quando houvesse) ou sebo e banha de
porco”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário