quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Família Rampanelli - Capítulo XX - 3ª Parte - Colônia Dona Isabel - As primeiras moradias

                                                    Colônia Dona Isabel - As primeiras moradias

 Quando chegavam ao lote, tinham que desbravá-lo, para erguer a primeira moradia, o seu lar brasileiro, que era bem rústica, devido aos poucos e precários recursos que dispunham. Consistia de quatro colunas feitas de troncos de árvores, com três metros de altura, com tábuas abertas por cunhas que cobriam as laterais e o telhado era coberto com capim. Na falta de ferramentas para trabalhar a madeira, construíam com paus-a-pique, cercavam as casas com bambus e as cobriam com capim ou folhas de caeté, às vezes utilizavam lençóis a certa altura do chão para se protegerem de animais silvestres, essas moradias eram construídas no início do lote junto à estrada principal, ou próximas de uma fonte de água. 

            Agora, já provisoriamente instalados e abrigados, começaram a lutar pela sobrevivência, abrindo as primeiras clareiras na mata e fazendo as primeiras roças para plantar batatas, aipim e milho, entre outras culturas. Em poucos anos de trabalho árduo, aproveitando os abundantes recursos que a natureza lhes oferecia gratuitamente, principalmente a madeira, uma vez que a região era toda coberta de matas, foram trabalhando manualmente a madeira para construir uma pequena casa, bem modesta, mas que os protegeria das intempéries e dos animais.

Fonte: Arquivo Histórico Juarez Miguel Illa Font, Erechim/RS.

A casa: [...] ”totalmente de madeira, desde os alicerces até o telhado, inclusive aberturas, portas e janelas”.


                        O escritor Hermes Vigne, descendente de imigrantes italianos, com sua grande sensibilidade, consegue buscar e captar na oralidade familiar, e nos deixar uma perfeita descrição, em sua obra “Os Vigne”, de como eram as residências dos colonos imigrantes, que agora transcrevemos:      















 [...] “as casas eram construídas de madeira, sim, mas já com tábuas serradas por eles próprios, ou com ajuda de alguém com prática no manejo da serra, pois isso constava em montar um estaleiro com altura adequada, rolar a torra escolhida em cima, depois um em cima da torra, controlando a espessura da tábua, ou outra peça a ser produzida, e outro em baixo, levando o pó da serragem na cabeça, fabricavam as tábuas e as demais madeiras necessárias para a construção da casa. A coberta era feita de tábuas lascadas, bem mais curtas, denominadas de tabuinhas (scândole). O tamanho ideal  das casas, nessa época “de modernidade” era de 6x8 metros ou seja 48m², com porão e sobrado”.

[...] “quase a totalidade das casas na época, construídas com cepos e baldrames (i sochi e i sataroni) de torras de angico ou outro cerne de madeira. Além da cozinha separada, tinham o porão (cantina), corpo da casa e sobrado, ou sótão (su-de-sora)”.

O porão ou cantina: [...] “era o local destinado para guardar as ferramentas, os arreios dos cavalos, o pilão para socar o arroz e o milho para canjica ou quirera, as tuias para guardar as sementes de feijão, de trigo, de arroz e outras, bem como os vasilhames para o vinho”.

Fonte da imagem: Livro da família Luzi

O corpo da casa (entre o sobrado e o porão): [...] “era o local dividido em compartimentos: uma sala, um quarto para o casal e outro para as filhas mulheres. Quando as moças tivessem namorado, normalmente ficavam na sala. Era a parte mais social da residência”.

Início  da 2ª parte

O sobrado: [...]”também era dividido em compartimentos. Era o local destinado aos filhos homens, caso sobrasse espaço, este era reservado à despensa”.

[...] “A cozinha era feita junto a casa, mas separada por um corredor coberto e, regularmente largo, o qual servia de sala de visitas em tempo de verão, ou descanso ao meio dia e à noitinha. A separação da casa com a cozinha era alegada pelo perigo do fogo, uma vez que o fogão era à lenha, ainda não era de ferro, mas um caixão de madeira, com terra, pedra ou tijolos e uma chapa de ferro onde se punham as panelas e chaleira para o cozimento da comida e o aquecimento da água”.

            Il Fogolaro: Fogão primitivo, onde a panela fica pendurada em cima do fogo no chão.            Fonte: https://www.facebook.com/parodievicentine

Os utensílios: [...] “uma lareira livre (fogão), sem chapa de ferro, com uma corrente pendurada sobre a lareira, com gancho na extremidade inferior para por as panelas (de ferro) para, sobre o fogo cozer os alimentos. Uma mesa feita de tábuas lascadas, uns bancos sem encosto, também de tábuas compridas, onde podia sentar várias pessoas. A pia, também de tábuas, colocadas logo fora da janela da cozinha”. 

[...] ”As louças, alguns pratos esmaltados, uma panela, uma chaleira e um bule, eram colocados em prateleiras pregadas na parede, canecas esmaltadas, algumas xícaras, concha, colheres, garfos, facas eram guardadas numa caixa, tudo trazido da Itália”.

             

                        Fonte: https://www.facebook.com/parodievicentine

As roupas: [...] “as melhores eram guardadas num baú, também vindo da Itália, e as demais eram penduradas em pregos cravados nas paredes, ou em um varal de madeira, pregados entre dois cantos do quarto (o varal para secar a roupa era de cipó tirado do mato)”.

A água: [...] “era trazida da fonte em um  recipiente, normalmente feito de madeira, de ferro ou de alumínio. A bacia para lavar as mãos e o rosto era uma gamela de madeira, sendo que à noite servia  também para lavar os pés, antes de ir para a cama (banhos só nos finais de semana, na sanga ou no rio)”.

As camas (i leti): [...] “eram feitos manualmente de madeira. Os colchões (i paioni) eram feitos de um tecido grosso, normalmente algodão ou brim, comprados em metros, ou em fardos, enchidos de palha de milho selecionada e picada para dar maciez e conforto, constando de quatro furos (como se fossem quatro casas de botões para, todas as manhãs, mexer a palha para deixar tudo bem fofinho. Os travesseiros (i cussim), do mesmo tecido, cheio de penas de galinhas ou de patos, preferencialmente tirados da região da barriga dessas aves para torná-los mais macios e aconchegantes. Os lençóis (i nissioli, o linsioli) de algodão e as cobertas (le straponte), para a época do frio, também eram de tecido e, quando possível, de melhor qualidade, floreados, pois normalmente ficavam mais a vista”.

A iluminação: [...] “era feita de lampiões  (i ciareti, il feral) abastecidos com querosene, (quando houvesse) ou sebo e banha de porco”.

Os banheiros: [...] “eram no mato, salvo à noite, para as mulheres, que eram privilegiadas, havia o penico (il bocal), para os homens, penico só se doentes, isso era coisa de mulheres”.(VIGNE, 2006).  

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