sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Família Rampanelli - Capítulo XX - 4ª Parte - Os primeiros tempos em Isabela - Os temidos índios e a febre amarela

 

“Os temidos índios” (bugres)

                        Os projetos de expansão colonizadora tanto dos imigrantes alemães nos vales, quanto dos italianos e de outras etnias na serra e no planalto do Rio Grande do Sul, ocorreu através do aniquilamento das comunidades nativas. Verificou-se que na realidade o enfrentamento entre o colonizador e o caingangue ocorreu na resistência deste último à ocupação dos imigrantes, o que acabou provocando o aniquilamento das comunidades nativas.’

                        A colonização na serra gaúcha em 1875, nas colônias de imigração de Dona Isabel, Campo dos Bugres, e Conde D’Eu, se deu na mesma área dos índios Kaingang (de tradição Taquara) e não teve maiores influências sobre a população indígena porque o problema da partilha das terras e da concentração dos índios fora superado. Os que sobreviveram já haviam sido expulsos para a região norte do estado do Rio Grande do Sul. Eram poucos os índios na região, a maioria, inofensivos e aculturados Os contatos entre os índios aldeados e o colonizador italiano foram raros e pacíficos.          

                        Segundo relatos de imigrantes italianos havia um entendimento do problema e das proibições, como:

            “Era proibido atirar em macacos e índios. Os bugres roubam, mas na verdade eles procedem assim porque da mesma maneira entendem que invadimos seu habitat e estão sendo roubados pelos invasores, diminuindo a caça e a pesca”.

                        Os índios caingangues eram chamados de bugres pelos imigrantes alemães, que chegaram em 1824 ao Rio Grande do Sul, isto é, cinquenta anos antes dos imigrantes italianos. O grande perigo, representado pela presença dos bugres, que povoou o imaginário dos imigrantes oriundos do norte da Itália, estabelecendo uma espécie de terror coletivo e um dos maiores desafios a serem enfrentados pelos imigrantes na nova pátria, fez mais estragos aos colonos alemães do que aos colonos italianos/tiroleses, na serra gaúcha, que se limitaram a roubar alguns gêneros nas suas propriedades, pois o colono invadiu seu habitat, fazendo  com que piorassem as condições de sobrevivência dos índios pela diminuição da caça e da pesca.

                        Segundo Cunha (2012) os kaingang habitavam o Planalto Meridional Brasileiro três mil anos antes da chegada dos europeus. Estes povos eram conhecidos como Proto-Kaingang, povos da tradição Taquara ou Povo das Casas Subterrâneas. Para se proteger do inverno rigoroso que castigava as elevadas regiões do Sul do Brasil.[...] construíam suas casas de forma enterrada, mantendo-as  assim, protegidas dos ventos fortes e gelados que cortam o planalto.

                                                                   Morada Kaingang

Os índios Kaingang, povos de tradição Taquara habitavam em casas subterrâneas que eram buracos escavados na terra com diversos tamanhos. Essa forma de habitação poderia ser uma adaptação ao clima frio do planalto.

Fonte:Histórias Gaúchas. Disponível em: http://históriasgaúcha.blogspot.com/2015/07/a-tradiçãotaquara.html.

                        Para os imigrantes alemães os índios caingangues atacavam os seus lotes, destruindo as plantações e muitas vezes saqueando e matando os colonos, conforme os relatos aqui apresentados.

Primeiro caso: As vítimas do Bugre. O caso foi narrado por Jacó Wersteg (sobrevivente) para o Monsenhor Matias Gans Weidt que foi o autor da obra “As vítimas do Bugre”.  Trata-se de um rico relato sobre as desventuras dos três raptados da família de Lamberto Versteg, a mulher Valfrida e os filhos Jacó e Maria em Santa Maria de Soledade, hoje a cidade de São Vendelino-RS no ano de 1868, e sobre as características  da floresta e dos seus primitivos habitantes. A família foi atacada na sua residência, enquanto o marido e pai Lamberto estava ausente. Os três foram sequestrados e levados pelos índios para a floresta. Foram realizadas várias expedições de resgate, mas todas fracassaram. Jacó conseguiu fugir nove anos depois, já com vinte e  três anos e encontrou com seu pai em São Leopoldo. A sua irmã Maria e a mãe Valfrida foram mortas pelos índios.

Segundo Caso: O massacre no Roseiral em 1832. Roseiral é uma localidade do Vale do Caí, hoje no interior do município de Linha Nova-RS, cidade próxima ao município de São José do Hortêncio. No dia 16 de abril de 1832 os índios atacaram os colonos alemães dessa localidade, resultando em onze pessoas mortas, sendo seis deles da família de Gaspar Gollner.

                        Não encontramos relatos como esses em relação aos imigrantes estabelecidos na região de colonização italiana.

A febre amarela

            A febre amarela, entre todas as doenças, foi a que mais vitimou imigrantes, que já chegavam doentes nas colônias, doenças provocadas pela longa travessia oceânica que os deixavam muito debilitados.

            Ao derrubar as primeiras árvores para a construção das casas e limpar o terreno para as plantações tem início uma grande epidemia de febres, os mosquitos transmissores da febre amarela baixavam das copas das árvores e atacavam os colonos, esses já debilitados por outras doenças e mais sensíveis por serem provenientes de lugares onde não existia a febre amarela corriam riscos maiores. Os casos leves causam febre, dor de cabeça, náuseas e vômitos. Os casos graves podem causar doenças cardíacas, hepáticas e renais fatais. Os sintomas são semelhantes aos da dengue e da malária. Essa doença, na forma fulminante, a morte acontecia dentro de dois a quatro dias, famílias inteiras de colonos eram dizimadas.

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