“Os temidos índios” (bugres)
Os
projetos de expansão colonizadora tanto dos imigrantes alemães nos vales,
quanto dos italianos e de outras etnias na serra e no planalto do Rio Grande do
Sul, ocorreu através do aniquilamento das comunidades nativas. Verificou-se que
na realidade o enfrentamento entre o colonizador e o caingangue ocorreu na
resistência deste último à ocupação dos imigrantes, o que acabou provocando o
aniquilamento das comunidades nativas.’
A colonização na serra
gaúcha em 1875, nas colônias de imigração de Dona Isabel, Campo dos Bugres, e
Conde D’Eu, se deu na mesma área dos índios Kaingang (de tradição Taquara) e não
teve maiores influências sobre a população indígena porque o problema da
partilha das terras e da concentração dos índios fora superado. Os que
sobreviveram já haviam sido expulsos para a região norte do estado do Rio
Grande do Sul. Eram poucos os índios na região, a maioria, inofensivos e
aculturados Os contatos entre os índios aldeados e o colonizador italiano foram
raros e pacíficos.
Segundo
relatos de imigrantes italianos havia um entendimento do problema e das
proibições, como:
“Era proibido atirar em macacos e
índios. Os bugres roubam, mas na verdade eles procedem assim porque da mesma
maneira entendem que invadimos seu habitat e estão sendo roubados pelos
invasores, diminuindo a caça e a pesca”.
Os
índios caingangues eram chamados de bugres pelos imigrantes alemães, que
chegaram em 1824 ao Rio Grande do Sul, isto é, cinquenta anos antes dos imigrantes
italianos. O grande perigo, representado pela presença dos bugres, que povoou o
imaginário dos imigrantes oriundos do norte da Itália, estabelecendo uma
espécie de terror coletivo e um dos maiores desafios a serem enfrentados pelos
imigrantes na nova pátria, fez mais estragos aos colonos alemães do que aos
colonos italianos/tiroleses, na serra gaúcha, que se limitaram a roubar alguns
gêneros nas suas propriedades, pois o colono invadiu seu habitat, fazendo com que piorassem as condições de sobrevivência
dos índios pela diminuição da caça e da pesca.
Segundo Cunha (2012) os kaingang habitavam o Planalto Meridional Brasileiro três mil anos antes da chegada dos europeus. Estes povos eram conhecidos como Proto-Kaingang, povos da tradição Taquara ou Povo das Casas Subterrâneas. Para se proteger do inverno rigoroso que castigava as elevadas regiões do Sul do Brasil.[...] construíam suas casas de forma enterrada, mantendo-as assim, protegidas dos ventos fortes e gelados que cortam o planalto.
Morada Kaingang
Os índios Kaingang, povos de tradição Taquara habitavam em casas subterrâneas que eram buracos escavados na terra com diversos tamanhos. Essa forma de habitação poderia ser uma adaptação ao clima frio do planalto.
Fonte:Histórias
Gaúchas. Disponível em:
http://históriasgaúcha.blogspot.com/2015/07/a-tradiçãotaquara.html.
Para
os imigrantes alemães os índios caingangues atacavam os seus lotes, destruindo
as plantações e muitas vezes saqueando e matando os colonos, conforme os
relatos aqui apresentados.
Primeiro caso:
As vítimas do Bugre. O caso foi narrado por Jacó Wersteg (sobrevivente) para o
Monsenhor Matias Gans Weidt que foi o autor da obra “As vítimas do Bugre”. Trata-se de um rico relato sobre as
desventuras dos três raptados da família de Lamberto Versteg, a mulher Valfrida
e os filhos Jacó e Maria em Santa Maria de Soledade, hoje a cidade de São
Vendelino-RS no ano de 1868, e sobre as características da floresta e dos seus primitivos habitantes.
A família foi atacada na sua residência, enquanto o marido e pai Lamberto
estava ausente. Os três foram sequestrados e levados pelos índios para a
floresta. Foram realizadas várias expedições de resgate, mas todas fracassaram.
Jacó conseguiu fugir nove anos depois, já com vinte e três anos e encontrou com seu pai em São
Leopoldo. A sua irmã Maria e a mãe Valfrida foram mortas pelos índios.
Segundo Caso:
O massacre no Roseiral em 1832. Roseiral é uma localidade do Vale do Caí, hoje
no interior do município de Linha Nova-RS, cidade próxima ao município de São
José do Hortêncio. No dia 16 de abril de 1832 os índios atacaram os colonos
alemães dessa localidade, resultando em onze pessoas mortas, sendo seis deles
da família de Gaspar Gollner.
Não encontramos relatos como esses em relação aos imigrantes estabelecidos na região de colonização italiana.
A febre amarela
A febre amarela, entre todas as
doenças, foi a que mais vitimou imigrantes, que já chegavam doentes nas
colônias, doenças provocadas pela longa travessia oceânica que os deixavam
muito debilitados.
Ao derrubar as primeiras árvores para
a construção das casas e limpar o terreno para as plantações tem início uma
grande epidemia de febres, os mosquitos transmissores da febre amarela baixavam
das copas das árvores e atacavam os colonos, esses já debilitados por outras
doenças e mais sensíveis por serem provenientes de lugares onde não existia a
febre amarela corriam riscos maiores. Os casos leves causam febre, dor de
cabeça, náuseas e vômitos. Os casos graves podem causar doenças cardíacas,
hepáticas e renais fatais. Os sintomas são semelhantes aos da dengue e da
malária. Essa doença, na forma fulminante, a morte acontecia dentro de dois a
quatro dias, famílias inteiras de colonos eram dizimadas.
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