Vencendo a
floresta virgem
A
eliminação da floresta sempre foi vista como uma vitória e uma conquista do
homem, um sinal de progresso e prosperidade. Era o primeiro obstáculo a ser
vencido, estava impresso na mente do colono imigrante, a necessidade de
dizimá-la. Na propaganda para atrair imigrantes para a colonização do sul do
Brasil, havia a promessa da facilidade de adquirir um lote agrícola e isso era
muito atrativo para os imigrantes europeus.
Porém tamanha deve ter
sido a surpresa desses imigrantes, principalmente para os pioneiros da
imigração, ao aqui chegarem e se depararem com áreas cobertas por densas
florestas, eram ao mesmo tempo imponentes, majestosas, mas, também, perigosas e
assustadoras, provocavam nos imigrantes um misto de estranhamento e
encantamento, pois, a floresta era um ambiente físico novo para os colonos,
devem ter se perguntado sobre como
proceder para domar essa natureza virgem e desenvolver a agricultura.
Os imigrantes italianos/tiroleses
estavam sós, com seus medos, abandonados no meio da floresta virgem. Entre os
relatos de imigrantes, está o do padre italiano Luigi Marzano, escrito em 1904
ao se referir à colonização italiana no sul do Brasil:
“Para
quem nunca pôs os pés em tais florestas, torna-se impossível fazer-se uma ideia
do grandioso conjunto e severo espetáculo que elas oferecem à vista do
visitante. [...] A floresta é tão espessa que torna impossível a visão além dos
vinte passos”. [...] (RADIM e outro, 2018, apud MARZANO, 1985, p.118).
Da Agrura à
fartura - A mesa não era farta para o imigrante pioneiro
O modo de vida dos
primeiros colonizadores era feito de muitas privações. Como alimento, naqueles primeiros
tempos, o café da manhã era composto de mate com algumas bolachas secas e
duras, e o almoço, de sopa de arroz com feijão, o que era repetido no jantar.
A simbologia do imigrante
italiano como ostentador de uma mesa farta, não era algo que estivesse na
simbologia do pioneiro. A sua imagem é a do homem sob privação. Viviam com poucos recursos na Áustria-Itália
e aqui também na condição de imigrantes recém-chegados.
O imigrante pioneiro, apesar da forma penosa e dura de viver nos primeiros tempos nas colônias foi se adaptando a estas condições adversas, e à medida que vai se sintonizando com o ambiente, transforma a sua área de terras coberta de mata virgem em roça nova. Esta conquista se deu com os parcos recursos disponíveis, utilizando o ferro do machado e o fogo das queimadas, esse sistema de coivara aprendeu com os nativos brasileiros, que consistia na derrubada das árvores e depois de secos, os galhos mais finos eram queimados para oferecer o espaço necessário para o plantio, os troncos mais grossos eram deixados para apodrecer e virar adubo. Por entre os troncos carbonizados plantava-se primeiro o feijão, depois o milho e demais produtos da terra.
A falta de experiência acarretava várias decepções quanto à esperada colheita, que dava ao colono somente o indispensável à subsistência da sua família, com o tempo as suas colheitas melhoraram e o excedente já era vendido ou trocado por outros produtos que lhe faziam falta, como: café, mate, sal, arroz e açúcar, etc... Esse processo ainda era realizado localmente, pois a falta de estradas e o estado lamentável das picadas impediam o escoamento de sua produção.
Os
efeitos do processo de colonização alteraram gradativamente à região por meio
da ação humana. A derrubada da floresta transformando o espaço em lavoura foi
uma necessidade para a sobrevivência dos colonos, mas também foram vistos como
motivo de orgulho pelo imigrante que graças ao seu trabalho soube derrubar a
mata cerrada e “afugentar os animais ferozes”, não satisfeitos foram
construindo casas, estradas, escolas e erguendo igrejas, enfim construíram
cidades.
Estes pioneiros
imigrantes tinham como ideal poder dar uma vida melhor aos seus filhos, isso
significava dar-lhes terra para trabalhar, consolidando uma cultura basicamente
agrícola, que contribuiu para acelerar a ocupação de novas áreas coloniais.
Com a construção das casas de comércio o imigrante consegue vender os seus produtos e adquirir outros. O colono coloca seus produtos numa carreta, puxada geralmente por bois, burros ou cavalos e leva seus produtos para a venda. Nesse comércio ressaltamos a importância do cavalo e da carreta de bois. Era rico o colono que tinha em sua terra, porcos no chiqueiro, destes tiravam vários produtos, principalmente a carne e a banha, e no mínimo uma vaquinha de leite.
Registro
fotográfico da primeira vaca de leite comprada pelo família Soccol. Na imagem:
Arcângelo e Júlia Soccol e as crianças, Lourdes, Cerci, Edir e Valmor. Acervo:
Solange Maria Soccol.
A caça e a pesca também foram muito
importantes para a sobrevivência dos imigrantes, principalmente nos primeiros
tempos, depois foram incorporadas outras atividades como: a construção da casa,
a lavoura, aos poucos começaram a criar seus animais domésticos,
porcos, galinhas e vacas leiteiras, além de coletas que faziam de
frutos da região, a carne de caça também fazia parte do cardápio e assim, fome
não passavam, ao contrário do que acontecia na terra de origem naquela época.
Após os anos iniciais, os imigrantes
já familiarizados com o novo ambiente, transformam a densa floresta em cinzas,
destas surgem às lavouras que lhes darão muitos lucros, já entram na floresta
para caçar e saem dela com grande habilidade.
As
dificuldades maiores ficaram ligadas ao processo de dominação do solo, pouco
conhecido, à precariedade das ferramentas para o desmatamento e plantio. Após o
desmatamento e a limpeza do solo e plantio, uma forte seca no ano de 1877,
dizimou quase por completo a plantação, sendo necessário esperar pelo novo
plantio. O clima ainda não era a maior preocupação dos colonos, mas, a falta de
um mercado consumidor dos centros urbanos maiores e a ausência de estradas e
meios de transportes que dificultavam muito o escoamento da produção. Mas mesmo
assim, as mesas ficaram fartas, a fome não assustava mais ninguém. Cada um era
senhor de si mesmo. Somente durante o processo de
colonização é que a comida farta se transformará num símbolo da ítalo
brasilidade.
A
construção de estradas
A
estrada mais importante para as colônias de Dona Isabel (Bento Gonçalves) e
Conde d’Eu (Garibaldi) e posteriormente também para Alfredo Chaves
(Veranopólis), era a estrada Geral, mais tarde denominada de Estrada Buarque de
Macedo.
Os
imigrantes no ínicio da colonização eram utilizados na abertura e manutenção
dessas estradas, na construção de barracões, na abertura de picadas, em troca o
dinheiro recebido era utilizado para pagar as dívidas existentes com a compra
dos lotes e também para a manutenção das famílias dos colonos nos primórdios da
colonização.
Este
trabalho remunerado, era realizado por revezamento, ou seja, 15 dias por mês de
trabalhos para a direção da Colônia em construção de estradas e os demais 15
dias os trabalhos dos colonos era realizados em suas propriedades, sem
remuneração, nesse caso.
Praticamente
todas as famílias dos primeiros colonos imigrantes italianos/tiroleses foram
obrigados, por necessidade de sobrevivência familiar, a trabalharem na
construção de estradas. Para a família de Giuseppe Rampanelli não foi
diferente, mas já estavam acostumados a esse exílio forçado, pois na
Áustria ou na Itália era comum, em
determinadas épocas do ano, principalmente no inverno, aos chefes de família e
filhos mais velhos a buscarem trabalho em outros países europeus,
principalmente na França.
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