A
primeira Capela em Dona Isabel
A
primeira capela na Colônia Dona Isabel foi construída pelo imigrante Giuseppe
Giovaninni. Era uma casinhola de tábuas rústicas, concluída em 1876, no mesmo
lugar da Igreja atual.
Nota do autor: Cada
imagem resgatada do passado e
introduzida nesta obra, me faz voltar no tempo, me remete aos lugares de
vivência e convivência de nossos antepassados, a emoção toma conta de mim, pois
sinto ali as suas presenças. No dia 04 de setembro de 2020, às 14 horas e 53 minutos, em plena pandemia do Covid-19, ao colocar nos
escritos do livro a imagem da primeira capela de Bento Gonçalves um calafrio
percorreu-me a espinha, uma vibração muito forte tomou conta de mim, não deu
para conter as lágrimas, consegui senti-los, quase materializados, ali
ajoelhados rezando.
A
primeira missa foi rezada em 30 de setembro de 1876, junto a Cruzinha na
Colônia Dona Isabel, pelo Padre Bartolomeo Tiecher, que veio de Santa Maria do Soledade (atual
São Vendelino) onde era pároco. Padre Tiecher
foi o primeiro padre trentino a
pisar na Colônia Dona Isabel.
Fonte: https://tiroleses.com.br/2021/08/05/o-primeiro-imigrante-de-garibaldi-rs/
Foi
um dia de festa, de muitas comunhões e batizados, pois os colonos imigrantes,
depois de tanto tempo, puderam assistir ao santo sacrifício da missa, reavivar
suas crenças religiosas, jamais apagadas em seus corações.
O
imigrante (LORENZONI, p.139) nos relata um acontecimento inusitado nesse dia:
“os colonos não pediram autorização ao Diretor da Colônia, senhor Ernesto Cartier, para o Padre Tiecher
realizar a santa missa. Aquela autoridade enviou os guardas Rodrigues e Borba,
para impedir as funções religiosas. Isso foi o bastante para os presentes
ficarem com os ânimos exaltados, que investiram contra os dois malfadados
emissários, enchendo-os de pauladas. Os dois fugiram, debaixo de uma chuva de
pedras de uma centena de pessoas e foram relatar o fato ao senhor Cartier.
O
devido inquérito foi aberto com a chegada de um Delegado Judiciário de Porto
Alegre. Os acusados, entre eles o imigrante Antônio Dalla Chiesa, alegaram
legitima defesa, foram felizes na sua defesa, porque o Delegado voltou para
Porto Alegre e nunca mais se ouviu notícias dele ou de qualquer condenação”.
A chegada dos primeiros padres
Em
1877 a população da Colônia Dona Isabel, já era de 1.929 pessoas, sendo 1.302
italianos, 505 tiroleses, alguns poucos brasileiros e franceses.
Nesse
mesmo ano de 1877, chega o primeiro padre à Colônia Dona Isabel, Dom Domenico
Munari, que como Capelão das colônias italianas construiu a segunda igrejinha,
agora de pedras e tijolos.
O
padre Domenico Munari faleceu no mesmo ano (1877) que chegou a Colônia Dona
Isabel, devido a uma queda do cavalo na frente do lote número 82 da Linha Palmeiro.
A
2ª Igrejinha, no mesmo lugar onde estava a 1ª capelinha. Colônia Dona
Isabel 1883. Ao lado o Campanário de madeira onde foram colocados os sinos
importados de Bassano na Itália. Fonte: Memórias de Bento Gonçalves.
Em
09 de janeiro de 1878 chegava à Colônia Dona Isabel o Padre João Menegotto,
oriundo da Província de Pádua na Itália. Foi nomeado pároco e dirigiu a
paróquia até o ano de 1902, ano em que, depois de uma rápida doença, veio a
falecer.
O
Padre Menegotto foi de fundamental importância para os colonos imigrantes e por
diversos momentos esteve presente nas questões religiosas da família
Rampanelli, celebrando as cerimônias de casamentos, batizou as crianças,
ministrou catecismo e conduziu os pequenos à primeira eucaristia, deu esperança
aos enfermos, confortou famílias e enterrou seus mortos, muitas vezes funcionou
também como conselheiro para assuntos familiares.
No
dia 13 de junho de 1878 foi realizada a primeira festa em honra a Santo Antônio.
No
dia 06 de agosto de 1884 o Bispo da Província do Rio Grande do Sul, Dom
Sebastião Dias Laranjeiras criou a paróquia com sede na Igreja Matriz de Santo
Antônio e o Padre João Menegotto tornou-se o primeiro pároco.
O Padre Menegotto foi considerado
o “criador de capelas”, apesar de que muitas já haviam sido construídas pelos
colonos imigrantes, quando da sua chegada a Dona Isabel no ano de 1878.
O
imigrante Júlio Lorenzoni faz uma análise da atuação comunitária do Pe.
Menegotto nos 24 anos (1878-1902) em que atuou como vigário da Paróquia Santo
Antônio, sempre dispensando a maior atenção ao seu rebanho,
“ foi sempre uma pessoa que soube
cativar a simpatia do povo, bem como das autoridades locais. [...] Era afável
com todos, caritativo, gostava da companhia dos amigos e, no desempenho de suas
funções sacerdotais, foi sempre correto e exemplar. Grande apreciador da
agricultura, mantinha a seu serviço cinco a seis homens, e os terrenos que
possuía nas vizinhanças da Vila eram cuidados como se fossem jardins.”
O
silêncio dos sinos
O
sino pode ser considerado um símbolo para os colonos imigrantes, sua grandeza e
sua linguagem simbólica representa e expressa os valores culturais, sociais e
espirituais dos imigrantes. Sempre foi no além-mar presença obrigatória no dia
a dia do camponês. A solidão e o abandono na imensidão da floresta virgem na
nova pátria, foram acentuados pela falta de padres, de igrejas e pelo silêncio
dos sinos.
O silêncio dos sinos nos primórdios
da imigração representava a desilusão, a frustração, a decadência e a
morte que os acompanhou desde a saída da
sua pátria até sua instalação no novo mundo.
Isabel, Antonio,
Maria e José – Os sinos da Igreja de Santo Antônio
Nos
anos de (1884-1885), apesar de haver tudo o que fosse necessário para a
sobrevivência familiar, sentia-se a escassez de moeda em circulação, pois, a
falta de boas estradas, não permitiam ainda, que os produtos coloniais
chegassem ao grande centro consumidor, que era Porto Alegre.
O
principal centro de escoamento da produção agrícola da Colônia Dona Isabel era
pelo porto de São João de Monte Negro, que
encontrava-se a 90 km de distância. As despesas com o transporte
tornavam inviáveis à circulação de produtos para a capital da Província. A
produção colonial, que consistia principalmente de trigo, milho, vinho, queijo,
carne de porco, manteiga, salame e banha, tinha que ser vendida localmente a
preços irrisórios.
Apesar da situação
econômica não ser favorável o Pe. João Menegotto começou uma campanha para a
compra de três sinos para a Igreja de Santo Antônio, o tão sonhado projeto,
esperado por todos.
Pére
Raymond, capuchinho francês que trabalhou junto aos imigrantes, sintetiza o
significado do sino no espaço de cada comunidade de imigrantes italianos/tiroleses
em terras da Província do Rio Grande do Sul. Escreveu em suas memórias que:
“o pároco lançou, então, o projeto sonhado: os
sinos! O povo estremeceu. As ofertas fluíram: trigo, milho, vinho, porcos,
cavalos velhos, de tudo que constituía a riqueza nacional. As mulheres
ofereciam dúzias de ovos. As moças fabricavam tranças de palhas em grande
quantidade” (RAYMOND, apud SANTIN).
O
vigário tornou-se o maior propagandista, lembrando sempre aos paroquianos,
durante as missas, da necessidade das doações. O povo da colônia acolheu a bela ideia e as doações apareceram
de todos os lugares, e, num período de um ano e pouco já tinham arrecadado a
importância de sete contos de réis, equivalentes a mais de vinte mil liras
italianas (LORENZONI, 1975, p.156). Assim foi possível fazer a encomenda dos
sinos à fábrica de Pedro Cobalchini na
comuna de Bassano, província de Vicenza
no Vêneto/Itália.
Dos sinos, o maior devia
pesar cerca de mil quilos, e o menor cento e cinquenta quilos, este sino menor
servia para chamar os fiéis à missa. Nos primeiros dias do ano de 1886, os
sinos chegavam a Porto Alegre. Foi a maior dificuldade organizar o transporte
dos sinos para a Colônia Dona Isabel, pois o estado em que se achava a estrada
Buarque de Macedo era difícil de descrever. Mas graças ao empenho dos senhores
Domingos Loss e dos carreteiros André Tedesco e Pedro Basso, felizmente as
dificuldades foram superadas, os tão sonhados sinos chegaram em perfeito estado
ao seu destino.
O
capuchinho Pére Raymundo continuou a descrever:
“o desembarque foi quase solene. O dia da chegada dos sinos na paróquia,
todo mundo fez feriado. As estradas estavam cheias de cavaleiros vindos de
todas as partes para ver os “campaniles” (sinos). Estavam lá, novos,
brilhantes, inspirando emoção e respeito”.
Para adiantar o serviço,
o carpinteiro Jacob Magnabosco, colono que residia nos confins da Linha Jansen,
com a ajuda de outros carpinteiros, já haviam iniciado a construção de uma
modesta torre de madeira para colocar os sinos, um arrojado campanário com uma
altura de uns vinte metros.
No
dia 23 de maio de 1886 com a torre pronta, os sinos colocados em seus lugares,
foi realizada a grande festa de inauguração e do batismo dos sinos, com
direito a vinda de vários padres das comunidades próximas, com as bênçãos dos
sagrados bronzes, arcos triunfais, a vila toda embandeirada, banda de música e
uma multidão enorme, que havia chegado de todas as linhas do município.
Os
três sinos maiores foram batizados: o maior com o nome de Isabel (homenagem a
vila); o segundo: Antonio (homenagem ao santo padroeiro) e o terceiro: Maria (homenagem a mãe de Jesus). Os nomes
foram escolhidos desde o momento da fundição, por ordem do Pe. João Meneghotto
que os havia encomendado. Um sino pequeno já se encontrava no campanário
antigo, recebeu o nome de José (homenagem ao pai de Jesus).
Suona campana, suona vicina, suona
lontana
Quando os sagrados sinos ecoam pela
primeira vez no silêncio da floresta, o povo em êxtase não consegue conter-se,
choram de nostálgicas alegrias, suas lembranças se voltam para a pequena aldeia
natal nas terras longínquas. Os sinos ecoam fortes no coração dos imigrantes,
suas badaladas tocam melodias de novas esperanças, de novos sonhos, de
recuperação, de novas lutas e de novas vitórias.
“ouvir o sino
ecoar lá no fundo de suas colônias era motivo de muita alegria, porque
significava viver e reviver, reacender esperanças e sentir-se em comunhão com
todos, mas acima de tudo significava a quebra do silêncio e da solidão tão
assustadoras e massacrantes”. [...] poetas populares anônimos registraram esses
momentos com versos: “suona campana, suona vicina, suona lontana. Tu sei lá
música del poveretto, che nel sentirti piange d’affetto”.Tradução: (toca o
sino, toca perto, toca longe. Tu és a música do pobre homem, que chora de afeto
ao te ouvir tocar). (BAREA, 1925, p.59, apud SANTIN)
Moradores da Linha Eulália, local onde morou Giuseppe Rampanelli e sua família, dirigindo-se à missa, na sede do município de Bento Gonçalves. Créditos: Foto Luz. Acervo: Eliana Casagrande Lorenzini.
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