quinta-feira, 20 de março de 2025

Família Rampanelli - Capítulo XXIX - Os últimos anos da família Rampanelli em Bento Gonçalves - 1ª Parte: 1900- 1910

 

Bento Gonçalves/RS –  Início do Século XX

                        A pequena cidade de Bento Gonçalves, escondida entre as montanhas da serra gaúcha, utiliza do seu forte espírito colonial e vai se urbanizando lentamente. Ainda sofre com a falta e a precariedade de suas estradas, o que dificulta o escoamento de seus produtos. Ainda ressente-se da falta de hospitais, médicos e remédios. Não conta ainda com a ferrovia em seus limites territoriais, nem com a luz elétrica,  nem com a telefonia.  Mas desta escassez toda  vem a necessidade, e, estas  abrem as  portas para a inovação na busca das soluções para os problemas.

                        A população  com grande espírito empreendedor consegue criar  grandes soluções para seus problemas de moradia, mobiliário, vestimenta, alimento, água potável, esgoto, etc... Tudo é feito pelas mãos de cada um que acredita em si e por todos que se ajudam, principalmente dentro das famílias – unidas na oração e no trabalho.

                        Estamos no ano de 1900, início do século XX, o estado geral da Colônia é bastante satisfatório. As estradas do município estão melhores, podendo transitar carretas entre as linhas e se chegar à sede da Colônia, sem muitos sacrifícios.

Sede da Villa de Bento Gonçalves. Rua Marechal Deodoro no ano de 1900. Acervo: Itacyr Luiz Giacomello Tags: Cidade e Infraestrutura  

                        As condições da maioria dos colonos estão melhores, começando a substituir suas casas de madeira, por casas de pedra, ou tijolos, ficando mais espaçosas, mesmo com apenas a utilização de terra na sua construção, pois os altos custos de transporte impediam a vinda da cal da cidade de Rio Pardo e da areia dos rios da região. As estrebarias para o abrigo dos animais são melhoradas e as cantinas estão mais adequadas para guardar as colheitas, principalmente os bons vinhos.

                        Em 1900 também foi desmembrada a ex-colônia de Conde d’Eu, hoje Garibaldi, deixando de ser o 2º distrito de Bento Gonçalves, e decretada a sua elevação para município.

A rebelião do Imposto

                        Em janeiro de 1905, o Conselho Municipal da Vila Dona Isabel, criou um imposto de quatro mil-réis, cobrado sobre os filhos casados, que conviviam com os pais, debaixo do mesmo teto. Essa cobrança provocou uma rebelião por parte de alguns colonos que durou por três dias, de 28 a 30 de janeiro de 1905. O imigrante Júlio Lorenzoni é que nos relata a situação:

            “Grupos de colonos armados de espingarda de caça e de instrumentos agrícolas: pás, enxadas, foices, etc., apresentavam-se na manhã do dia trinta, numa atitude pouco correta, ao Palácio Municipal, reclamando contra o tal imposto” . (LORENZONI, 1975, p.212).

                            As autoridades tentaram convencer os colonos mais exaltados, de que não havia motivo suficiente para tomarem tal atitude, mas nada conseguiu. Júlio Lorenzoni continua seu relato:

            “Enquanto isto, aumentava o número de descontentes. Alguns começaram a beber e já se ouviam expressões hostis às autoridades, ameaçando atear fogo à Prefeitura, matar os empregados, queimar as casas, e outras violências”. (LORENZONI, 1975, p. 212).

                        As autoridades chamaram e receberam reforços, 15 homens bem armados, provenientes da Colônia Alfredo Chaves e mais vinte praças da Brigada Militar de Porto Alegre. Foi o suficiente para que o grupo de revoltosos debandasse e a rebelião acabasse.

A invasão dos gafanhotos

                        Em dezembro de 1905 houve a invasão de uma nuvem de gafanhotos, como relata Julio Lorenzoni:

            “Os daninhos insetos chegaram ao território de Bento Gonçalves, escurecendo a luz solar, tal a quantidade”. [...] “Onde esta praga pousava, destruía em poucas horas as árvores, especialmente as frutíferas: laranjeiras, pessegueiros, pereiras, macieiras, ameixeiras, etc...”. (JULIO LORENZONI, 1975, p. 214).

                        As linhas situadas a oeste da cidade foram as que mais sofreram,

            [...] “Como se não fora suficiente, em vez de continuar sua migração, os vorazes insetos pousaram e desovaram debaixo da terra”.

[...]” O intendente organizou um mutirão, organizando turmas de colonos para caçar os daninhos insetos, sendo enterrados ou queimados. Os ovos também eram extraídos da terra por mulheres e crianças, sendo estes pagos pela Prefeitura a um tanto o quilo”.

 [...] “Finalmente os restantes, quando resolveram emigrar em direção ao Atlântico, até desaparecerem de todo, deixaram completamente destruída toda a colheita, incalculáveis prejuízos e uma tristeza imensa no espírito dos pobres trabalhadores”. (LORENZONI, 1975, p.214, 215).

 

A grande seca de 1905

                        Para piorar, depois da passagem dos gafanhotos, houve um período de intensa seca, muitos colonos ficaram sem o seu sustento, foi um período de desconforto e miséria, muitos tiveram a impressão de que teriam de emigrar novamente. Mas aos poucos os colonos se recuperaram e já tiveram melhores resultados na safra de 1906.

                        Em 1906, foi fundado na Vila de Bento Gonçalves, o atual Clube Aliança, sociedade recreativa, sendo seu primeiro presidente, Antonio Lorenzoni. Também, nesse mesmo ano foi criado um Sindicato Agrícola, com o objetivo de proteger a agricultura, distribuindo aos colonos boas sementes de cereais, mudas frutíferas e artigos diversos para suprir todas as necessidades dos colonos.

                                      Centro de Bento Gonçalves em 1906. Em primeiro plano, podemos ver os parreirais da família Ross. Ao fundo a igreja Santo Antonio, sem a torre e o prédio da Prefeitura Municipal. Acervo: Museu do Imigrante.

         

              Bento Gonçalves em 1910. Colheita e separação dos grãos de trigo na Colônia. Acervo: Museu do Imigrante.

                          Em 1910 foi inaugurada a Estação Telefônica.

     

Vila de Bento Gonçalves em 1910. Acervo: Museu do Imigrante

                        Também em 1910, chega o primeiro trem a cidade de Caxias, ponto terminal de um percurso que iniciava em Montenegro. A população ressente-se, revolta-se, sobre o percurso da ferrovia não contemplar Garibaldi e Bento Gonçalves, passando apenas por Carlos Barbosa e dirigindo-se diretamente a Caxias do Sul, Julio Lorenzoni explica:

            [...] “havia sido decretado, desde o princípio, que a citada via férrea, de Montenegro iria chegar a Bento Gonçalves e, daqui, seguiria até Caxias”.

[...] “ignora-se o motivo, a linha em vez de seguir, de Carlos Barbosa a direção norte, tomou a leste, em direção de Caxias, excluindo Garibaldi e Bento Gonçalves”. (LORENZONI, 1975, p.225).

                                O trem só chegaria a Bento Gonçalves no ano de 1919, através de uma iniciativa particular e dos esforços do Dr. Antonio Casagrande, que muito trabalhou para a construção do ramal Carlos Barbosa-Bento Gonçalves.

Estação de trem de Bento Gonçalves na sua inauguração em 1919.  Acervo: Museu do Imigrante.

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