Bento Gonçalves/RS – Início do Século XX
A
pequena cidade de Bento Gonçalves, escondida entre as montanhas da serra
gaúcha, utiliza do seu forte espírito colonial e vai se urbanizando lentamente.
Ainda sofre com a falta e a precariedade de suas estradas, o que dificulta o
escoamento de seus produtos. Ainda ressente-se da falta de hospitais, médicos e
remédios. Não conta ainda com a ferrovia em seus limites territoriais, nem com
a luz elétrica, nem com a telefonia. Mas desta escassez toda vem a necessidade, e, estas abrem as
portas para a inovação na busca das soluções para os problemas.
A
população com grande espírito empreendedor
consegue criar grandes soluções para
seus problemas de moradia, mobiliário, vestimenta, alimento, água potável,
esgoto, etc... Tudo é feito pelas mãos de cada um que acredita em si e por
todos que se ajudam, principalmente dentro das famílias – unidas na oração e no
trabalho.
Estamos
no ano de 1900, início do século XX, o estado geral da Colônia é bastante
satisfatório. As estradas do município estão melhores, podendo transitar
carretas entre as linhas e se chegar à sede da Colônia, sem muitos sacrifícios.
As
condições da maioria dos colonos estão melhores, começando a substituir suas
casas de madeira, por casas de pedra, ou tijolos, ficando mais espaçosas, mesmo
com apenas a utilização de terra na sua construção, pois os altos custos de
transporte impediam a vinda da cal da cidade de Rio Pardo e da areia dos rios
da região. As estrebarias para o abrigo dos animais são melhoradas e as
cantinas estão mais adequadas para guardar as colheitas, principalmente os bons
vinhos.
Em
1900 também foi desmembrada a ex-colônia de Conde d’Eu, hoje Garibaldi,
deixando de ser o 2º distrito de Bento Gonçalves, e decretada a sua elevação
para município.
A rebelião do
Imposto
Em janeiro de 1905, o Conselho
Municipal da Vila Dona Isabel, criou um imposto de quatro mil-réis, cobrado
sobre os filhos casados, que conviviam com os pais, debaixo do mesmo teto. Essa
cobrança provocou uma rebelião por parte de alguns colonos que durou por três
dias, de 28 a 30 de janeiro de 1905. O imigrante Júlio Lorenzoni é que nos
relata a situação:
“Grupos de colonos armados de espingarda
de caça e de instrumentos agrícolas: pás, enxadas, foices, etc.,
apresentavam-se na manhã do dia trinta, numa atitude pouco correta, ao Palácio
Municipal, reclamando contra o tal imposto” . (LORENZONI, 1975, p.212).
As autoridades tentaram convencer os colonos mais
exaltados, de que não havia motivo suficiente para tomarem tal atitude, mas
nada conseguiu. Júlio Lorenzoni continua seu relato:
“Enquanto isto, aumentava o número de
descontentes. Alguns começaram a beber e já se ouviam expressões hostis às
autoridades, ameaçando atear fogo à Prefeitura, matar os empregados, queimar as
casas, e outras violências”. (LORENZONI, 1975, p. 212).
As
autoridades chamaram e receberam reforços, 15 homens bem armados, provenientes
da Colônia Alfredo Chaves e mais vinte praças da Brigada Militar de Porto
Alegre. Foi o suficiente para que o grupo de revoltosos debandasse e a rebelião
acabasse.
A invasão dos gafanhotos
Em
dezembro de 1905 houve a invasão de uma nuvem de gafanhotos, como relata Julio
Lorenzoni:
“Os daninhos insetos chegaram ao
território de Bento Gonçalves, escurecendo a luz solar, tal a quantidade”.
[...] “Onde esta praga pousava, destruía em poucas horas as árvores,
especialmente as frutíferas: laranjeiras, pessegueiros, pereiras, macieiras,
ameixeiras, etc...”. (JULIO LORENZONI, 1975, p. 214).
As
linhas situadas a oeste da cidade foram as que mais sofreram,
[...] “Como se não fora suficiente, em
vez de continuar sua migração, os vorazes insetos pousaram e desovaram debaixo
da terra”.
[...]” O
intendente organizou um mutirão, organizando turmas de colonos para caçar os
daninhos insetos, sendo enterrados ou queimados. Os ovos também eram extraídos
da terra por mulheres e crianças, sendo estes pagos pela Prefeitura a um tanto
o quilo”.
[...] “Finalmente os restantes, quando
resolveram emigrar em direção ao Atlântico, até desaparecerem de todo, deixaram
completamente destruída toda a colheita, incalculáveis prejuízos e uma tristeza
imensa no espírito dos pobres trabalhadores”. (LORENZONI, 1975, p.214, 215).
A grande seca de 1905
Para
piorar, depois da passagem dos gafanhotos, houve um período de intensa seca,
muitos colonos ficaram sem o seu sustento, foi um período de desconforto e
miséria, muitos tiveram a impressão de que teriam de emigrar novamente. Mas aos
poucos os colonos se recuperaram e já tiveram melhores resultados na safra de
1906.
Em 1906, foi fundado na
Vila de Bento Gonçalves, o atual Clube Aliança, sociedade recreativa, sendo seu
primeiro presidente, Antonio Lorenzoni. Também, nesse mesmo ano foi criado um
Sindicato Agrícola, com o objetivo de proteger a agricultura, distribuindo aos
colonos boas sementes de cereais, mudas frutíferas e artigos diversos para
suprir todas as necessidades dos colonos.
Em
1910 foi inaugurada a Estação Telefônica.
Também
em 1910, chega o primeiro trem a cidade de Caxias, ponto terminal de um
percurso que iniciava em Montenegro. A população ressente-se, revolta-se, sobre
o percurso da ferrovia não contemplar Garibaldi e Bento Gonçalves, passando
apenas por Carlos Barbosa e dirigindo-se diretamente a Caxias do Sul, Julio
Lorenzoni explica:
[...] “havia sido decretado, desde o
princípio, que a citada via férrea, de Montenegro iria chegar a Bento Gonçalves
e, daqui, seguiria até Caxias”.
[...] “ignora-se
o motivo, a linha em vez de seguir, de Carlos Barbosa a direção norte, tomou a
leste, em direção de Caxias, excluindo Garibaldi e Bento Gonçalves”.
(LORENZONI, 1975, p.225).
O
trem só chegaria a Bento Gonçalves no ano de 1919, através de uma iniciativa
particular e dos esforços do Dr. Antonio Casagrande, que muito trabalhou para a
construção do ramal Carlos Barbosa-Bento Gonçalves.
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