segunda-feira, 17 de março de 2025

Família Rampanelli - Capítulo XXVII - A Revolução da Degola (1893-1895) - A família Rampanelli morava ao lado.

 

A Revolução da Degola – 1893/1895 - A família morava ao lado

Fonte: Adaptado de Google Maps pelo autor.
 

                          Inicia-se em 05 de fevereiro de 1893 uma das mais violentas revoluções da história brasileira: a revolução federalista, apelidada de Revolução da Degola, em razão do grande número de pessoas degoladas por ambas as partes. Era necessário um meio rápido de execução, devido à incapacidade das tropas em combate de fazer prisioneiros, mantê-los e alimentá-los. O pica-pau (governista) Cherengue ou Xerengue rivalizava com Adão Latorre dos maragatos (federalistas) em número de degolas praticadas.


Execução por degola durante a Revolta Federalista 1893-1895. (Foto: Affonso de Oliveira Mello, de Castro/PR). Acervo original: Biblioteca Nacional. Disponível: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro.


Execução de um Revoltoso – Interpretando a imagem

 

                         Esta execução deu-se na cidade de Ponta Grossa no estado do Paraná, nas proximidades da estação da estrada de ferro, nos primeiros dias do mês de abril de 1894.

 

Os personagens: da esquerda para a direita: 1º) Capitão Porto; 2º) Major Dr. Fritz (médico); 3º) Major Gandino de Castro, conhecido por Coronel Carlito; 4º) Capitão Estroubeli; 5º) Sebastião Juvêncio (Cabo e Carrasco); 6º) Intendente Alfredo; 7º) Não identificado; 8º) Capitão Dionísio. 9°) A vítima, não foi identificada.


                                                                                   

 As forças Castilhistas (de Júlio de Castilhos) foram apelidadas pelos inimigos de pica-paus ou ximangos, devido as roupas azuis que usavam e um boné com um adereço vermelho acima da aba preta, daí a associação com o pássaro.



Júlio de Castilhos (Presidente do Estado do RS)

Fonte: Wikipedia


                        Os Federalistas (forças revolucionárias), liderados por Gaspar Silveira Martins, receberam de seus adversários o apelido de maragatos.

 

Gaspar Silveira Martins, líder das forças revolucionárias (Federalistas).

                                                                                                                                Fonte: Wikipédia


                        O termo originou-se no Uruguai em função de um grupo de uruguaios que lutavam na revolução ao lado das tropas de Gumercindo Saraiva, eram conhecidos como maragatos por serem descendentes de espanhóis vindos da região de Maragatería na Província de Leon na Espanha. Para os pica-paus um termo pejorativo identificando os federalistas como invasores estrangeiros e mercenários. Eram também, identificados pela cor do lenço, as forças do governo tinham o lenço branco e os federalistas usavam um lenço vermelho.

                          As tropas castilhistas (pica-paus), eram formadas por tropas regulares da Brigada Militar, do Exército Brasileiro e contavam com reforços de “patriotas voluntários”.


A Gravata Colorada


                         As forças federalistas (maragatos) eram um grupo heterogêneo, composto por homens que haviam lutado no Uruguai, como mercenários, e por voluntários simpatizantes da causa, sem experiência ou treinamento militar, formado principalmente por peões sem experiência em combate, mas que eram excelentes cavaleiros, acostumados com a vida no campo e hábeis no uso de facas, facões, lanças e boleadeiras. Deixaram  sua marca  nos campos de batalha da revolução de 1893 por seu estilo, alta mobilidade e pela naturalidade com que aplicavam em seus inimigos a “gravata colorada”  termo conhecido para a prática da degola.


 






                         As causas da revolução foram devido as disputas políticas regionais entre o partido republicano e o partido federalista, liberal, adepto da monarquia e que defendia a forma parlamentarista de governo. Esse conflito acirrou-se devido a proclamação da República em 1889. Em apenas 2 anos o Rio Grande do Sul teve 18 governadores.

                          As disputas entre pica-paus e maragatos foram mais acentuadas na fronteira com o Uruguai e Argentina, também na região norte do Rio Grande do Sul entre Cruz Alta e Passo Fundo, chegando suas escaramuças a Santa Catarina e Paraná.

                         A Vila de Bento Gonçalves não ficou livre de pegar alguns respingos dessa revolução. Tanto as forças do governo, como as forças revolucionárias passaram pela vila em diversas ocasiões ou acamparam nas imediações.


        

    O Comandante Chachá Pereira de uma força governista esteve duas vezes em Bento Gonçalves. Em outra ocasião, sessenta homens comandados por Chico Paulista ficaram por mais de quatro meses alojados na casa da Sociedade Italiana Rainha Margarida.

 

 


Fonte:https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Revolu%C3%A7%C3%A3o_Federalista_de_1895.jpg



Bento Gonçalves, 1897..no contexto da Revolução da Degola. Em primeiro plano, o Cemitério Municipal,  onde Giuseppe Rampanelli foi sepultado, dois anos depois em 1899. Acervo: Museu do Imigrante.


                         As forças revolucionárias do Comandante General Palmeiro, com cerca de quinhentos homens, dos quais faziam parte muitos italianos, ficaram aquarteladas na Vila de Alfredo Chaves, hoje Veranopólis, e um grupo comandado pelo Coronel Vicente Decusati estavam acampados no Passo do Governo, hoje Passo Velho no rio das Antas. Outra parte desses homens, ficaram por várias semanas alojados na casa do colono tirolês Gaspar Cainelli, no lote de número 89, último lote da Estrada Geral Oeste. (LORENZONI, 1975, p.193).

 

Família Rampanelli – A Revolução morava ao lado

 

                       Não podemos afirmar com certeza se alguém da família Rampanelli participou ativamente dessas contendas, mas acreditamos que não, pois saíram do Tirol por causa das guerras e por mais que simpatizassem por um dos lados, não entrariam num  conflito que não lhes dizia respeito. Elaboramos uma mapa para mostrar que  em vários momentos  a família Rampanelli esteve muito próxima e cercada pelas tropas em conflito.


                   As Colônias de migração na serra gaúcha também sofreram as funestas consequências da revolução e acreditamos também que a família Rampanelli  e os demais imigrantes instalados na Vila de Bento Gonçalves e nos seus arredores  tenham sofrido essas consequências, mas na pior das hipóteses  os prejuízos limitaram-se à perda de vacas, cavalos e outros animais.

                     Para Júlio Lorenzoni, imigrante italiano diz que só recorda de choques entre as forças em disputas uma única vez e que foi na saída de Garibaldi, na estrada que conduz a Bento Gonçalves. Naquele embate foram disparados cerca de seis mil tiros, sem que houvesse nenhuma morte, apenas alguns feridos que foram transportados para a Vila de Bento Gonçalves.

                      A paz na disputa só foi atingida no dia 23 de agosto de 1895, com a intervenção direta do Presidente da República, Prudente de Moraes, e foi conseguida com a total submissão dos rebeldes, pois as suas exigências não foram atendidas.

                    A Vila de Bento Gonçalves felizmente, não teve a lamentar nenhuma vítima, e pouco ou nada sofreu naquele tempo.

                     A  rivalidade política e as chagas do conflito criaram uma profunda divisão na sociedade rio-grandense, tanto que, trinta anos depois, todas as diferenças e ressentimentos serviriam de combustível para a Revolução de 1923, quando novamente lenços brancos e lenços vermelhos se enfrentariam. Mas essa é outra história, que será contada mais adiante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário