A
Revolução da Degola – 1893/1895 - A família morava ao lado
Inicia-se
em 05 de fevereiro de 1893 uma das mais violentas revoluções da história
brasileira: a revolução federalista, apelidada de Revolução da Degola, em razão
do grande número de pessoas degoladas por ambas as partes. Era necessário um
meio rápido de execução, devido à incapacidade das tropas em combate de fazer
prisioneiros, mantê-los e alimentá-los. O pica-pau (governista) Cherengue ou
Xerengue rivalizava com Adão Latorre dos maragatos (federalistas) em número de
degolas praticadas.
Execução por degola
durante a Revolta Federalista 1893-1895. (Foto: Affonso de Oliveira Mello, de
Castro/PR). Acervo original: Biblioteca Nacional. Disponível:
Execução de um Revoltoso –
Interpretando a imagem
Esta
execução deu-se na cidade de Ponta Grossa no estado do Paraná, nas proximidades
da estação da estrada de ferro, nos primeiros dias do mês de abril de 1894.
Os personagens: da
esquerda para a direita: 1º) Capitão Porto; 2º) Major Dr. Fritz (médico); 3º)
Major Gandino de Castro, conhecido por Coronel Carlito; 4º) Capitão Estroubeli;
5º) Sebastião Juvêncio (Cabo e Carrasco); 6º) Intendente Alfredo; 7º) Não
identificado; 8º) Capitão Dionísio. 9°) A vítima, não foi identificada.
As forças Castilhistas (de Júlio de Castilhos) foram apelidadas pelos inimigos de pica-paus ou ximangos, devido as roupas azuis que usavam e um boné com um adereço vermelho acima da aba preta, daí a associação com o pássaro.
Júlio de Castilhos (Presidente do Estado do RS)
Fonte: Wikipedia
Os
Federalistas (forças revolucionárias), liderados por Gaspar Silveira Martins,
receberam de seus adversários o apelido de maragatos.
Gaspar Silveira Martins, líder das forças revolucionárias (Federalistas).
Fonte: Wikipédia
O
termo originou-se no Uruguai em função de um grupo de uruguaios que lutavam na
revolução ao lado das tropas de Gumercindo Saraiva, eram conhecidos como
maragatos por serem descendentes de espanhóis vindos da região de Maragatería
na Província de Leon na Espanha. Para os pica-paus um termo pejorativo
identificando os federalistas como invasores estrangeiros e mercenários. Eram
também, identificados pela cor do lenço, as forças do governo tinham o lenço
branco e os federalistas usavam um lenço vermelho.
As tropas castilhistas (pica-paus), eram formadas por tropas regulares da Brigada Militar, do Exército Brasileiro e contavam com reforços de “patriotas voluntários”.
A Gravata Colorada
As
disputas entre pica-paus e maragatos foram mais acentuadas na fronteira com o
Uruguai e Argentina, também na região norte do Rio Grande do Sul entre Cruz
Alta e Passo Fundo, chegando suas escaramuças a Santa Catarina e Paraná.
A
Vila de Bento Gonçalves não ficou livre de pegar alguns respingos dessa
revolução. Tanto as forças do governo, como as forças revolucionárias passaram
pela vila em diversas ocasiões ou acamparam nas imediações.
O
Comandante Chachá Pereira de uma força governista esteve duas vezes em Bento
Gonçalves. Em outra ocasião, sessenta homens comandados por Chico Paulista
ficaram por mais de quatro meses alojados na casa da Sociedade Italiana Rainha
Margarida.
Bento Gonçalves, 1897..no contexto da Revolução da Degola. Em primeiro plano, o Cemitério Municipal, onde Giuseppe Rampanelli foi sepultado, dois anos depois em 1899. Acervo: Museu do Imigrante.
As
forças revolucionárias do Comandante General Palmeiro, com cerca de quinhentos
homens, dos quais faziam parte muitos italianos, ficaram aquarteladas na Vila
de Alfredo Chaves, hoje Veranopólis, e um grupo comandado pelo Coronel Vicente
Decusati estavam acampados no Passo do Governo, hoje Passo Velho no rio das
Antas. Outra parte desses homens, ficaram por várias semanas alojados na casa
do colono tirolês Gaspar Cainelli, no lote de número 89, último lote da Estrada
Geral Oeste. (LORENZONI, 1975, p.193).
Família Rampanelli – A Revolução
morava ao lado
Não podemos afirmar com certeza se alguém da família Rampanelli participou ativamente dessas contendas, mas acreditamos que não, pois saíram do Tirol por causa das guerras e por mais que simpatizassem por um dos lados, não entrariam num conflito que não lhes dizia respeito. Elaboramos uma mapa para mostrar que em vários momentos a família Rampanelli esteve muito próxima e cercada pelas tropas em conflito.
As
Colônias de migração na serra gaúcha também sofreram as funestas consequências
da revolução e acreditamos também que a família Rampanelli e os demais imigrantes instalados na Vila de
Bento Gonçalves e nos seus arredores
tenham sofrido essas consequências, mas na pior das hipóteses os prejuízos limitaram-se à perda de vacas,
cavalos e outros animais.
Para
Júlio Lorenzoni, imigrante italiano diz que só recorda de choques entre as
forças em disputas uma única vez e que foi na saída de Garibaldi, na estrada
que conduz a Bento Gonçalves. Naquele embate foram disparados cerca de seis mil
tiros, sem que houvesse nenhuma morte, apenas alguns feridos que foram
transportados para a Vila de Bento Gonçalves.
A paz na disputa só foi
atingida no dia 23 de agosto de 1895, com a intervenção direta do Presidente da
República, Prudente de Moraes, e foi conseguida com a total submissão dos
rebeldes, pois as suas exigências não foram atendidas.
A Vila de Bento Gonçalves felizmente, não teve
a lamentar nenhuma vítima, e pouco ou nada sofreu naquele tempo.
A rivalidade política e
as chagas do conflito criaram uma profunda divisão na sociedade rio-grandense,
tanto que, trinta anos depois, todas as diferenças e ressentimentos serviriam
de combustível para a Revolução de 1923, quando novamente lenços brancos e
lenços vermelhos se enfrentariam. Mas essa é outra história, que será contada
mais adiante.
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