sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025
Encontro da Família Rampanelli - Chapecó-SC 2020 - Você gostaria de participar de um novo encontro em 2026? Responda nos comentários.
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025
Família Rampanelli - Capítulo XXI - A religiosidade na Colônia Dona Isabel - 3ª Parte - O quebra pau com a Polícia. É preciso respeitar a Santa.
O quebra pau com a polícia. É preciso respeitar a Santa
O imigrante Júlio Lorenzoni relata uma desordem ocorrida no dia 26 de julho de 1888, na Colônia Dona Isabel, durante à procissão na festa de Santa Ana,
“quando, portanto aquela procissão composta de cerca de duas mil pessoas, estava voltando para a Igreja [...] o subdelegado Justino Ferreira Pinto passou de chapéu na cabeça vizinho à procissão e sendo chamada a sua atenção para tal irreverência pelo negociante Fortunato De Mozzi, isto foi o suficiente para que quisesse prendê-lo. Imediatamente um policial agarrava-o brutalmente. [...] a ação do policial foi a centelha que desencadeou a barrafunda. Mais de dez ou doze policiais intervieram de espadas desembainhadas e aí a procissão debandou num instante; os sarrafos das cercas eram arrancados precipitadamente para servirem de armas de defesa e os que não tiveram tempo, recolhiam pedras para jogar nos agressores. A revolta fazia-se sempre maior; uns batiam, outros atiravam pedras contra os policiais, as mulheres fugiam, gritando por socorro, as crianças assustadas choravam e o páraco João Menegotto, com o ostensório na mão, ficou sozinho no meio da rua. As quatro mocinhas que carregavam o andor, com a imagem de Santa Ana, acharam melhor deixá-lo na calçada. [...} Fugiram espavoridas e, só mais tarde, a imagem foi recolhida por duas senhoras de idade, Frainer e Ambrosi, que, precedidas pelo padre, a reconduziram para a igreja” .(LORENZONI, 1975, p. 173).
Naqueles tempos, e para os colonos imigrantes que tinham se rebelado e ido a guerra, na sua antiga pátria, em defesa da sua fé, desrespeitar os seus santos, era um risco até para a polícia. Segundo nos relata Lorenzoni, a história teve novos desdobramentos:
“ depois de mais de duas horas, não se via na Sede um só colono, todos tendo regressado às suas casas, comentando amargamente o ocorrido e censurando as autoridades. [...] os que estavam feridos, ou que haviam levado pancadas ou espadadas, recolhiam-se ao lar; os soldados retiraram-se ao quartel. O Delegado porém, acompanhado de outros soldados [...] percorria até o escurecer a Vila, querendo capturar o comerciante Peregrino Baldini. O motivo era ter ele descarregado sua arma contra os agentes de Polícia que tinham invadido repentinamente a sua moradia [...] afirmando que os colonos estavam ali escondidos. Baldini vendo o caso mal contado, fugiu de casa [...] contra ele foi iniciado o respectivo processo, não chegando, porém a ser pronunciado, por falta absoluta de provas”. (LORENZONI, 1975, p.174).
Depois desse quebra pau todo, acredito que entre mortos e feridos, se salvaram todos.
No ano de 1890 deram início os trabalhos de construção da terceira Igreja, que foi concluída no ano de 1894.
“Ghemo inciuca anca i santi”
Um exemplo vivo da determinação e da fé católica dos colonos imigrantes em construir suas igrejas, foi a da pequena capela católica romana de Nossa Senhora das Neves ou simplesmente capela das Neves, localizada no Vale dos Vinhedos em Bento Gonçalves-RS, construída no início do século passado para substituir a capela primitiva de madeira, com cobertura em tabuinhas, tipo scándole.
A comunidade constituída principalmente por imigrantes tiroleses trentinos, decidiu construir uma capela nova de alvenaria, usando tijolos artesanais. Para atingir seu objetivo foi preciso muita fé, muito trabalho e também muito vinho. Sim, muito vinho, com certeza os colonos que construíram a capela nova devem ter bebido muito desse vinho, mas a maior parte fora utilizado para construir a pequena igreja.
Quando começaram a construção da capela, uma grande estiagem assolou a região e a água disponível estava muito longe do local. Para resolver o problema da falta de água, os moradores da Linha Leopoldina decidiram doar o vinho produzido na região, como forma de substituir a água e permitir a retomada dos trabalhos. O vinho foi misturado com a palha de trigo e argila para formar a liga necessária para unir os tijolos da capela. Segundo o depoimento, sobre a utilização do vinho na construção da capela, o descendente de imigrantes Elias Giordani que ajudou a construir a capela dizia:
“havia muito e pouca água, muito vinho de sobra, porque a safra estava pronta e precisava-se do vasilhame; pouca água, porque no morro onde está a igreja não há fontes. Então, alguém teve a ideia de molhar o barro e amassa-lo com vinho, por ser mais cômodo [...] ghemo inciuca anca i santi”. (embebedamos também os santos).
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025
Família Rampanelli - Capítulo XXI - A religiosidade na Colônia Dona Isabel - 2ª Parte - Sem padres, sem Igrejas, mas com muita fé.
A
população da Colônia Dona Isabel em 1876 já era de 800 pessoas, entre eles,
tiroleses, italianos, alguns poucos brasileiros, franceses e alemães.
Os
tiroleses, assim como os demais italianos, eram muito religiosos, apegados a
valores morais e conservadores, baseados em princípios religiosos cristãos,
claros e rígidos, altamente influenciados pela história da região tirolesa/trentina,
que esteve sob o domínio clerical dos Príncipes-Bispos que governaram a região
por oitocentos anos. Por isso, a influência cultural da religião católica foi
mais intensa naquela região.
Os
tiroleses trentinos que emigraram para o Brasil a partir de 1875, vieram
católicos, sabiam de cor os mandamentos da lei de Deus e os ensinamentos da
Igreja, edificando templos e resignando-se, nos problemas e dificuldades à
vontade de Deus, sempre fizeram da religião uma razão da sua própria
existência.
Sem
padres, sem Igrejas, mas com muita fé
Na
floresta virgem, não havia igreja, nem padre. O imigrante teve que reconstruir
um novo mundo religioso, bem como se adaptar e criar novos valores e modos de
viver. Mas a devoção continuava a mesma do velho mundo. Em casa à noite
rezava-se o terço (la corona), mas o dia de domingo era um problema, pois ele
era completamente diferente daqueles domingos passados nas montanhas alpinas.
Por
falta de padres e de Igrejas nos primeiros tempos no Brasil, substituíram a
missa dominical pela reza do terço, rezados nas capelinhas ou capitéis e também
nas casas de famílias.
Tudo
era só saudade: de vestir os trajes de domingo; dos encontros e das conversas
com vizinhos e amigos; da missa; dos tragos no boteco; das paqueras e dos
namoros. Construir uma capela nos travessões era uma necessidade.
A
origem das capelas
As
capelas criadas pelos pioneiros imigrantes oriundos da Itália/Áustria ao se
estabelecerem no Brasil são produtos de uma vida religiosa sempre marcada por uma
espiritualidade tridentina (Trento/Itália), porque baseada numa revisão do
Missal Romano, seguindo orientações do Concílio de Trento.
A Igreja Católica Romana, era totalmente
ausente na região de colonização italiana na serra gaúcha, apesar de ser a
Igreja oficial do Império Brasileiro, não tinha autonomia para criar paróquias
e dar assistência aos que recém chegavam. Alguns padres jesuítas alemães
visitavam eventualmente os colonos para celebrar os sacramentos.
Os colonos imigrantes acostumados a
uma vida religiosa intensa, tentaram por iniciativa própria, recriar o mundo
religioso com o qual estavam acostumados na antiga pátria. Dom BAREA explica
como os colonos iniciaram esse processo de reconstrução de seu mundo religioso
de outrora.
“Pouco a pouco e na
medida que as condições materiais permitiam, os colonos começam a construir
pequenos oratórios dedicados aos santos de suas localidades de origem e, nestas
miseráveis igrejinhas, todas feitas com tábuas brutas, reuniam-se os colonos nos
dias festivos”. (BAREA, 1925, apud ZUGNO, p. 419).
Apenas
superadas as primeiras dificuldades de instalação na nova colônia, os colonos
se reuniam para chegar a um acordo para construir uma pequena igreja. Na
construção da capela, um colono fazia a doação do terreno, outros doavam
pinheiros, muitos ofereciam seus serviços (mão de obra) para a construção e
muitos outros faziam doações em dinheiro. A capela era construída em poucos
dias, com troncos de pinheiros e tábuas, eram confeccionadas também as tabuinhas
(scándole), usadas para cobrir a Igreja.
As
capelas chegaram antes dos padres, construídas e mantidas pela organização
comunitária dos moradores das linhas, servindo para atender as questões
religiosas do colono imigrante abandonado pelo estado brasileiro e pela Igreja
no interior da mata virgem, entre as montanhas da serra gaúcha.
A
capela tornou-se o centro social, cultural e econômico das comunidades.
Nas capelas, com o tempo e a melhoria das
condições financeiras dos seus habitantes, outros espaços, foram sendo incorporados
à igrejinha já existente, como o cemitério, o campanário, a escola e o salão
comunitário. Esse conjunto de construções para atividades específicas é que
deve ser entendido como capela, não apenas o espaço utilizado para as rezas e
missas.
A
necessidade dos imigrantes tiroleses e italianos de construir capelas, nos
lembram o quanto vieram marcados pelo estado de Cristandade. Os espaços, os
tempos, as atividades, a vida dos colonos sempre foram marcadas pela religião.
Com
as capelas, o domingo, dia sagrado, a rotina da vida tinha outra ordem, menos
trabalho, mais orações, melhores roupas e calçados eram usados, muita alegria
através de canções, jogos, comida e muito vinho.
A
difícil escolha do santo padroeiro
Discutia-se
tudo, desde qual o material a ser utilizado na construção (pedra, tijolo ou
madeira) até a escolha do santo padroeiro. A confusão no travessão estava
estabelecida, escolher o santo era um foco de conflito entre os colonos. Havia
um exército de santos, uns podiam mais
que outros, não havendo acordo, se construía mais de uma capela no
travessão, para agradar os dois santos preferidos.
Teve um caso de uma
capela que precisou ser reconstruída, porque foi destruída por um vendaval,
quando um colono sugeriu trocar o santo padroeiro. Indagado pelos outros do
motivo da troca, disse: “parche quel li no l’é stá gnanca bon de tender la so
cesa” (porque esse não foi nem capaz de cuidar de sua própria Igreja).
Depois,
construía-se o cemitério, geralmente ao lado ou nos fundos da capela, depois o
campanário e a compra dos sinos, a escola e por último o salão comunitário.
Essa vivência religiosa
tornou possível a construção de um território simbólico de segurança e
estabilidade visível nos capitéis, capelas e Igrejas e nas imagens dos santos
padroeiros.
“Nostro
prete” (nosso padre)
Nos cultos e nas demais cerimônias
religiosas a falta de padres, fazia com que fossem realizados por um leigo,
escolhido pela comunidade. Para os colonos, esse líder religioso era conhecido
como “nostro prete” (nosso padre) ou de “prete de scapoera” (padre da
capoeira). O escolhido tinha que preencher alguns requisitos fundamentais:
devia ser uma pessoa piedosa, dada a oração e conhecedora dos problemas da
religião.
A função do padre leigo era de dirigir a
comunidade nas orações, assistir os moribundos, fazer as orações nos enterros e
abençoar as casas e os objetos sagrados, símbolos da proteção divina, que os
colonos desejavam ter em casa. O padre leigo benzia até a água, transformando-a
em água benta. Na maioria das vezes esse
padre leigo era o preferido dos colonos a aqueles enviados pelo Bispo, pois
estes só apareciam de vez em quando na comunidade.
A religiosidade foi fundamental para
lidar com as adversidades cotidianas. Pelas crenças e pelos ritos religiosos,
lembravam-se, de onde tinham partido, da vida que levavam e quais eram seus
objetivos.
O
Capo-linea (o chefe do travessão)
Também
nas comunidades os colonos faziam a escolha da autoridade civil e social, o
chamado “capo-linea” (o chefe de travessão). Este representante escolhido
também era obrigado a preencher certos requisitos para bem representar aquela
comunidade. Era necessário que fosse alguém com liderança, objetivo e de
temperamento conciliador para resolver os conflitos entre os membros da
comunidade, desentendimentos por disputas de terras, invasão de plantações por
parte de animais dos vizinhos ou do fogo que passara de um roçado para outro.
Os
colonos cientes de sua autonomia evitavam recorrer às autoridades civis da
colônia, receosos de não se fazer entender pelas dificuldades com a língua
portuguesa e com desconhecimento das leis brasileiras. Quem apelasse para a
Polícia, Juiz ou o Prefeito para resolver o problema era muito criticado.
O “soto-coa”
Era
um funcionário da Prefeitura, nomeado como comissário para atuar junto aos
colonos nas capelas. Foi a forma com que a administração civil achou para
marcar sua presença na região. Pelo seu caráter subalterno à autoridade civil,
os colonos o chamavam pejorativamente de
“soto-coa” (debaixo do rabo). Foi muito confundido com o “capo-linea (chefe do
travessão), que era escolhido pelos colonos.
O
poder administrativo nas colônias era representado pelos diretores e demais
funcionários, mas o poder mais efetivo exercido diariamente sobre o colono
imigrante foi o da Igreja Católica que teve papel fundamental na formação
social, cultural e política das colônias de imigração. Os sacerdotes foram as
autoridades mais respeitadas e sua atuação, se deu como poder disciplinador na
organização sócio cultural dos imigrantes.
Se
os conflitos não fossem resolvidos na comunidade, apelava-se, primeiro ao
padre, antes do Delegado, Prefeito ou Juiz, a quem se respeitava como uma
autoridade enviada por Deus. A palavra do padre na maioria das vezes era
definitiva. Alguns padres, que por muitos anos atuaram em uma comunidade,
muitos deles vindos da Itália, são recordados até hoje, por sua piedade e
sabedoria de vida, até pela sua habilidade política, capaz de, em muitas vezes
dar razão, a ambas às partes.
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025
Família Rampanelli - Capítulo XXI - 1ª Parte - A religiosidade na Colônia Dona Isabel - A fé sobe novas montanhas
A
primeira Capela em Dona Isabel
A
primeira capela na Colônia Dona Isabel foi construída pelo imigrante Giuseppe
Giovaninni. Era uma casinhola de tábuas rústicas, concluída em 1876, no mesmo
lugar da Igreja atual.
Nota do autor: Cada
imagem resgatada do passado e
introduzida nesta obra, me faz voltar no tempo, me remete aos lugares de
vivência e convivência de nossos antepassados, a emoção toma conta de mim, pois
sinto ali as suas presenças. No dia 04 de setembro de 2020, às 14 horas e 53 minutos, em plena pandemia do Covid-19, ao colocar nos
escritos do livro a imagem da primeira capela de Bento Gonçalves um calafrio
percorreu-me a espinha, uma vibração muito forte tomou conta de mim, não deu
para conter as lágrimas, consegui senti-los, quase materializados, ali
ajoelhados rezando.
A
primeira missa foi rezada em 30 de setembro de 1876, junto a Cruzinha na
Colônia Dona Isabel, pelo Padre Bartolomeo Tiecher, que veio de Santa Maria do Soledade (atual
São Vendelino) onde era pároco. Padre Tiecher
foi o primeiro padre trentino a
pisar na Colônia Dona Isabel.
Fonte: https://tiroleses.com.br/2021/08/05/o-primeiro-imigrante-de-garibaldi-rs/
Foi
um dia de festa, de muitas comunhões e batizados, pois os colonos imigrantes,
depois de tanto tempo, puderam assistir ao santo sacrifício da missa, reavivar
suas crenças religiosas, jamais apagadas em seus corações.
O
imigrante (LORENZONI, p.139) nos relata um acontecimento inusitado nesse dia:
“os colonos não pediram autorização ao Diretor da Colônia, senhor Ernesto Cartier, para o Padre Tiecher
realizar a santa missa. Aquela autoridade enviou os guardas Rodrigues e Borba,
para impedir as funções religiosas. Isso foi o bastante para os presentes
ficarem com os ânimos exaltados, que investiram contra os dois malfadados
emissários, enchendo-os de pauladas. Os dois fugiram, debaixo de uma chuva de
pedras de uma centena de pessoas e foram relatar o fato ao senhor Cartier.
O
devido inquérito foi aberto com a chegada de um Delegado Judiciário de Porto
Alegre. Os acusados, entre eles o imigrante Antônio Dalla Chiesa, alegaram
legitima defesa, foram felizes na sua defesa, porque o Delegado voltou para
Porto Alegre e nunca mais se ouviu notícias dele ou de qualquer condenação”.
A chegada dos primeiros padres
Em
1877 a população da Colônia Dona Isabel, já era de 1.929 pessoas, sendo 1.302
italianos, 505 tiroleses, alguns poucos brasileiros e franceses.
Nesse
mesmo ano de 1877, chega o primeiro padre à Colônia Dona Isabel, Dom Domenico
Munari, que como Capelão das colônias italianas construiu a segunda igrejinha,
agora de pedras e tijolos.
O
padre Domenico Munari faleceu no mesmo ano (1877) que chegou a Colônia Dona
Isabel, devido a uma queda do cavalo na frente do lote número 82 da Linha Palmeiro.
A
2ª Igrejinha, no mesmo lugar onde estava a 1ª capelinha. Colônia Dona
Isabel 1883. Ao lado o Campanário de madeira onde foram colocados os sinos
importados de Bassano na Itália. Fonte: Memórias de Bento Gonçalves.
Em
09 de janeiro de 1878 chegava à Colônia Dona Isabel o Padre João Menegotto,
oriundo da Província de Pádua na Itália. Foi nomeado pároco e dirigiu a
paróquia até o ano de 1902, ano em que, depois de uma rápida doença, veio a
falecer.
O
Padre Menegotto foi de fundamental importância para os colonos imigrantes e por
diversos momentos esteve presente nas questões religiosas da família
Rampanelli, celebrando as cerimônias de casamentos, batizou as crianças,
ministrou catecismo e conduziu os pequenos à primeira eucaristia, deu esperança
aos enfermos, confortou famílias e enterrou seus mortos, muitas vezes funcionou
também como conselheiro para assuntos familiares.
No
dia 13 de junho de 1878 foi realizada a primeira festa em honra a Santo Antônio.
No
dia 06 de agosto de 1884 o Bispo da Província do Rio Grande do Sul, Dom
Sebastião Dias Laranjeiras criou a paróquia com sede na Igreja Matriz de Santo
Antônio e o Padre João Menegotto tornou-se o primeiro pároco.
O Padre Menegotto foi considerado
o “criador de capelas”, apesar de que muitas já haviam sido construídas pelos
colonos imigrantes, quando da sua chegada a Dona Isabel no ano de 1878.
O
imigrante Júlio Lorenzoni faz uma análise da atuação comunitária do Pe.
Menegotto nos 24 anos (1878-1902) em que atuou como vigário da Paróquia Santo
Antônio, sempre dispensando a maior atenção ao seu rebanho,
“ foi sempre uma pessoa que soube
cativar a simpatia do povo, bem como das autoridades locais. [...] Era afável
com todos, caritativo, gostava da companhia dos amigos e, no desempenho de suas
funções sacerdotais, foi sempre correto e exemplar. Grande apreciador da
agricultura, mantinha a seu serviço cinco a seis homens, e os terrenos que
possuía nas vizinhanças da Vila eram cuidados como se fossem jardins.”
O
silêncio dos sinos
O
sino pode ser considerado um símbolo para os colonos imigrantes, sua grandeza e
sua linguagem simbólica representa e expressa os valores culturais, sociais e
espirituais dos imigrantes. Sempre foi no além-mar presença obrigatória no dia
a dia do camponês. A solidão e o abandono na imensidão da floresta virgem na
nova pátria, foram acentuados pela falta de padres, de igrejas e pelo silêncio
dos sinos.
O silêncio dos sinos nos primórdios
da imigração representava a desilusão, a frustração, a decadência e a
morte que os acompanhou desde a saída da
sua pátria até sua instalação no novo mundo.
Isabel, Antonio,
Maria e José – Os sinos da Igreja de Santo Antônio
Nos
anos de (1884-1885), apesar de haver tudo o que fosse necessário para a
sobrevivência familiar, sentia-se a escassez de moeda em circulação, pois, a
falta de boas estradas, não permitiam ainda, que os produtos coloniais
chegassem ao grande centro consumidor, que era Porto Alegre.
O
principal centro de escoamento da produção agrícola da Colônia Dona Isabel era
pelo porto de São João de Monte Negro, que
encontrava-se a 90 km de distância. As despesas com o transporte
tornavam inviáveis à circulação de produtos para a capital da Província. A
produção colonial, que consistia principalmente de trigo, milho, vinho, queijo,
carne de porco, manteiga, salame e banha, tinha que ser vendida localmente a
preços irrisórios.
Apesar da situação
econômica não ser favorável o Pe. João Menegotto começou uma campanha para a
compra de três sinos para a Igreja de Santo Antônio, o tão sonhado projeto,
esperado por todos.
Pére
Raymond, capuchinho francês que trabalhou junto aos imigrantes, sintetiza o
significado do sino no espaço de cada comunidade de imigrantes italianos/tiroleses
em terras da Província do Rio Grande do Sul. Escreveu em suas memórias que:
“o pároco lançou, então, o projeto sonhado: os
sinos! O povo estremeceu. As ofertas fluíram: trigo, milho, vinho, porcos,
cavalos velhos, de tudo que constituía a riqueza nacional. As mulheres
ofereciam dúzias de ovos. As moças fabricavam tranças de palhas em grande
quantidade” (RAYMOND, apud SANTIN).
O
vigário tornou-se o maior propagandista, lembrando sempre aos paroquianos,
durante as missas, da necessidade das doações. O povo da colônia acolheu a bela ideia e as doações apareceram
de todos os lugares, e, num período de um ano e pouco já tinham arrecadado a
importância de sete contos de réis, equivalentes a mais de vinte mil liras
italianas (LORENZONI, 1975, p.156). Assim foi possível fazer a encomenda dos
sinos à fábrica de Pedro Cobalchini na
comuna de Bassano, província de Vicenza
no Vêneto/Itália.
Dos sinos, o maior devia
pesar cerca de mil quilos, e o menor cento e cinquenta quilos, este sino menor
servia para chamar os fiéis à missa. Nos primeiros dias do ano de 1886, os
sinos chegavam a Porto Alegre. Foi a maior dificuldade organizar o transporte
dos sinos para a Colônia Dona Isabel, pois o estado em que se achava a estrada
Buarque de Macedo era difícil de descrever. Mas graças ao empenho dos senhores
Domingos Loss e dos carreteiros André Tedesco e Pedro Basso, felizmente as
dificuldades foram superadas, os tão sonhados sinos chegaram em perfeito estado
ao seu destino.
O
capuchinho Pére Raymundo continuou a descrever:
“o desembarque foi quase solene. O dia da chegada dos sinos na paróquia,
todo mundo fez feriado. As estradas estavam cheias de cavaleiros vindos de
todas as partes para ver os “campaniles” (sinos). Estavam lá, novos,
brilhantes, inspirando emoção e respeito”.
Para adiantar o serviço,
o carpinteiro Jacob Magnabosco, colono que residia nos confins da Linha Jansen,
com a ajuda de outros carpinteiros, já haviam iniciado a construção de uma
modesta torre de madeira para colocar os sinos, um arrojado campanário com uma
altura de uns vinte metros.
No
dia 23 de maio de 1886 com a torre pronta, os sinos colocados em seus lugares,
foi realizada a grande festa de inauguração e do batismo dos sinos, com
direito a vinda de vários padres das comunidades próximas, com as bênçãos dos
sagrados bronzes, arcos triunfais, a vila toda embandeirada, banda de música e
uma multidão enorme, que havia chegado de todas as linhas do município.
Os
três sinos maiores foram batizados: o maior com o nome de Isabel (homenagem a
vila); o segundo: Antonio (homenagem ao santo padroeiro) e o terceiro: Maria (homenagem a mãe de Jesus). Os nomes
foram escolhidos desde o momento da fundição, por ordem do Pe. João Meneghotto
que os havia encomendado. Um sino pequeno já se encontrava no campanário
antigo, recebeu o nome de José (homenagem ao pai de Jesus).
Suona campana, suona vicina, suona
lontana
Quando os sagrados sinos ecoam pela
primeira vez no silêncio da floresta, o povo em êxtase não consegue conter-se,
choram de nostálgicas alegrias, suas lembranças se voltam para a pequena aldeia
natal nas terras longínquas. Os sinos ecoam fortes no coração dos imigrantes,
suas badaladas tocam melodias de novas esperanças, de novos sonhos, de
recuperação, de novas lutas e de novas vitórias.
“ouvir o sino
ecoar lá no fundo de suas colônias era motivo de muita alegria, porque
significava viver e reviver, reacender esperanças e sentir-se em comunhão com
todos, mas acima de tudo significava a quebra do silêncio e da solidão tão
assustadoras e massacrantes”. [...] poetas populares anônimos registraram esses
momentos com versos: “suona campana, suona vicina, suona lontana. Tu sei lá
música del poveretto, che nel sentirti piange d’affetto”.Tradução: (toca o
sino, toca perto, toca longe. Tu és a música do pobre homem, que chora de afeto
ao te ouvir tocar). (BAREA, 1925, p.59, apud SANTIN)
Moradores da Linha Eulália, local onde morou Giuseppe Rampanelli e sua família, dirigindo-se à missa, na sede do município de Bento Gonçalves. Créditos: Foto Luz. Acervo: Eliana Casagrande Lorenzini.
Família Rampanelli - Histórias da Família 6 - Uma vida marcada por tragédias.
O
casal ANTONIO RAMPANELLI e LUCIA MORO – Uma vida marcada por tragédias.
Fonte: Produzido pelo autor
Antônio
Rampanelli era filho de Pietro Giovanni Rampanelli e Virginia Cassoli, nasceu
em 1893 na Linha José Júlio, junto ao Rio das Antas, na época Vila de Bento
Gonçalves/RS, hoje território pertencente à cidade de Veranópolis/RS. Este
lugar pela dificuldade de acesso ficou conhecido como o “cafundó do rio das
Antas”.
Lúcia Moro e Antônio Rampanelli. Fonte: Acervo familiar
Antônio
casou com Lúcia Moro, nascida em 1896, também na Linha José Júlio. Lúcia era
filha de Andrea Moro e Tereza Gasparetto e desta união tiveram nove filhos
legítimos: Elio, Hildebrando, Anacleto, Reinaldo, Leodonio, Adelino 1, Adelino
2, Doralice e Leonilda Rampanelli e mais dois filhos adotivos: Terezinha Schinaider
e Mário Rampanelli. Terezinha era filha de Leonilda Rampanelli e de Pedro
Schinaider e foi criada pelos avós Antonio e Lucia. Terezinha ainda vive e
reside na cidade de Cascavel/PR. Mário era sobrinho/neto de Antonio e Lúcia,
filho do sobrinho Pergentino Rampanelli e neto de João Rampanelli, irmão de
Antônio.
Andrea Moro e Tereza Gasparetto. Andrea morreu afogado no rio das Antas em Bento Gonçalves em 1911. O corpo não foi encontrado. Fonte: Acervo familiar
A
vida da família de Antônio e Lucia não foi de facilidades, tiveram que passar
por muitas dificuldades, como diz a neta Tereza: “uma família guerreira, uma
família de heróis”. A família mudou-se da Colônia de Alfredo Chaves, hoje
Veranópolis, para a Colônia Erechim, na região de Erval Grande no norte do Rio
Grande do Sul em busca de novas terras. Muitas picadas na mata foram abertas
pela família para chegar aos lotes adquiridos.
Após
alguns anos a família se dividiu, uma parte dela foi para Santa Catarina,
desbravando as matas virgens da região de Abelardo Luz e Coronel Freitas. Só
mais tarde o filho Elio que trabalhou como balseiro, transportando madeira pelo
rio Uruguai, segundo sua filha Tereza teria realizado 13 viagens, se juntou aos
irmãos em Santa Catarina.
A vida da família de Antonio Rampanelli e de Lucia Moro foi marcada por muitas tragédias. A primeira ocorreu com o pai de Lucia, Andrea Moro, que morreu em 1911, por afogamento no rio das Antas em Bento Gonçalves. A segunda foi com o filho mais velho, Adelino Rampanelli morto a tiros numa emboscada. Antonio e Lúcia ao nascer mais um filho, colocaram também, em homenagem ao filho falecido, o seu nome Adelino. Mais uma vez uma tragédia marcou a família e está atingiu o pequeno Adelino com apenas 18 meses de idade, foi atingido acidentalmente por um tiro disparado por um peão, que veio comprar cachaça produzida pela família de Antonio e Lucia. . Outro filho, Hildebrando Rampanelli, ao se defender de uma emboscada, também de imigrantes poloneses, acabou matando a tiros um deles. Foi condenado a seis (6) anos de prisão e cumpriu sua pena na Cadeia Pública de Porto Alegre, conhecida como o cadeião do Gazometro.
Exatamente
no dia 08 de Outubro de 1979 mais uma dupla tragédia se abateu sobre a família.
Os filhos dos já falecidos, Antonio e Lucia, Elio Rampanelli e o filho adotivo,
sobrinho/neto Mário Rampanelli morreram afogados no rio Chapecó, ao fazer a travessia do rio durante uma enchente, a velocidade da água virou a
canoa, jogando os dois na água. Essa história já foi contada em capítulo anterior.
Mesmo
com destinos tão trágicos a família foi levando a vida e superando as
dificuldades que se apresentavam.
Hoje,
Antonio e Lúcia tem um grande número de descendentes espalhados por esse Brasil
afora. Antonio faleceu em 1965 e Lucia em 1968, ambos com 72 anos de idade.
Estão sepultados em Coronel Freitas/SC.