A
miséria, a fome e às doenças.
Uma
outra doença que estava causando muitas mortes nessa época era a tuberculose
que atingia índices de 10% da população. Como era considerada uma doença
vergonhosa os médicos evitavam de fazer relatos, referindo-se a outras causas.
As vitimas eram principalmente os jovens entre 18 e 35 anos.
Mais
uma doença vitimizava os vales do Trentino na época da grande emigração: a
pelagra. As causas dessa doença não eram conhecidas, mas segundo estudos
realizados por um médico de Rovereto/Àustria ela teve três estágios de
desenvolvimento:
“No início, o paciente viu sua pele descamar e secar em certas partes do corpo expostas ao sol, cotovelhos e joelhos. Como resultado, isso enfraqueceu o paciente e dificultou o trabalho. Na última fase, a pelagra levou à atrofia muscular, tuberculose pulmonar e, em muitos casos, até a loucura e suicídio. Somente mais tarde médicos e pesquisadores descobriram que a pelagra é causada por uma deficiência de vitamina”.
Segundo
De Boni e Costa:
“a dieta alimentar da população
rural deteriorou-se. A carne desapareceu das mesas, sobrando aos pobres a
perspectiva de matar alguns passarinhos para completar o regime alimentar.
Aumentava entretanto o consumo de produtos a base de milho, principalmente de
polenta. A subnutrição trazia consigo a predisposição para inúmeras doenças
[...] A pelagra, uma forma de avitaminose devido ao consumo quase exclusivo de
milho, grassava assustadoramente o norte do país (DE BONI; COSTA,1984, p.52-53:
apud UKOSKI, 2013).
O imigrante Francisco
Zanotelli que veio para a Colônia Conde D’Eu, hoje Garibaldi, provavelmente no
mesmo vapor da família de Giuseppe Rampanelli em 1875, perdeu cinco dos seus
seis filhos e resolveu emigrar com o único filho que lhe restava, Narciso
Zanotelli. A causa mortis dos filhos não sabemos, mas é provável que se vincule
a “pelagra”. (Zanotelli, p. 144).
Estas não foram as únicas
doenças que aflingiram o Tirol italiano. Muitas crianças morriam de
escarlatina, doença infectocontagiosa aguda, provocada pela bactéria
estreptococo que acomete principalmente crianças em idade escolar (de 2 a 10
anos). A difteria, o sarampo e o cólera
também fizeram os seus estragos. Em todas as idades houve disseminação de
escrofulose, uma tuberculose dos gânglios linfáticos, doença que se manifesta pela formação de tumores duros e
dolorosos nos glânglios linfáticos, principalmente nos que se localizam no
queixo, pescoço, axilas e virilhas, devido a presença do Bacilo de Koch fora
dos pulmões. Os abcessos podem abrir e libertar uma secreção amarela ou incolor
.
Também eram atingidos
pelo raquitismo, que criava deformações dos ossos em todas as partes do corpo.
Um médico da época escreveu que: “entre nós,os deformados florescem como
cogumelos”. Essa enfermidade também era causada pela má nutrição. Vivia-se
nuito mal no trentino na segunda metade dos anos 1800. Em cada cem crianças,
morriam 23 antes do primeiro ano de vida
e 43 morriam antes dos vinte anos. E a
expectativa de vida era entre 36 e 37 anos no Trentino, enquanto na Alemanha,
na França e nos países escandinavos era entre 43 e 50 anos.
As práticas sanitárias
não eram bem conhecidas e pela falta dessas práticas e de instrumentos médicos os camponeses trentinos
buscavam a sua cura na natureza, através do uso de ervas e também nas práticas
chamadas de “tiraossi” (extração óssea – quiropraxia primitiva) e aos
“cavadenti” (extratores de dentes executados por ferreiros) e daqueles que
tratavam a doença com práticas religiosas mágicas.
As casas eram justapostas e não permitiam a entrada de
sol e junto a casa ficavam os estábulos, local que permaneciam por muitas
horas, todos os dias, especialmente no inverno, ali reuniam-se frequentemente
para os filos.
Os caminhos estavam sempre repletos de água que corria e levava consigo lixo e resíduos. O esterco das vacas eram usados para fertilizar os campos e ficavam acumulados próximos aos lares.
A
miséria grassava no Trentino dos anos 1800. A nutrição insuficiente era uma
doença generalizada, juntamente com isso, o modo de vida exigia esforços
físicos exagerados no trabalho,
principalmente para o agricultor que possuía poucas terras, era obrigado a
trabalhar muitas horas por dia para produzir o mínimo necessário para viver e
envolvia mulheres, crianças e idosos no trabalho duro. Era a única maneira de
sobreviver, algo que precisava ser feito em tempos de grave crise social e
econômica.
A
miséria que levou à emigração surgiu da impossibilidade de se alimentar
adequadamente e da necessidade de trabalhar cada vez mais para colocar na mesa
cada vez menos e da pobreza de suas casas e das aldeias em que viviam.
Esse estado de miséria da população camponesa,
fez com que um italiano interpelasse um ministro de Estado de seu país, em
relação às razões que estavam levando à emigração em massa:
“Que coisa entendeis por uma nação, Senhor Ministro? É
a massa dos infelizes? Plantamos e
ceifamos o trigo, mas nunca provamos o pão branco. Cultivamos a videira, mas
não bebemos o vinho. Criamos animais, mas não comemos a carne. Apesar disso,
vós nos aconselhais a não abandonarmos a
nossa pátria? Mas é uma pátria a terra
em que não se consegue viver do próprio trabalho?”
No Trentino se vivia no
limiar da fome. O agricultor, que era a
maioria da população, situava-se no nível mais baixo da escala social e
chegavam dos outros países europeus e dos Estados Unidos notícias de um modo de
vida totalmente diferente, com elevado consumo e de liberdades impensáveis no
Tirol Italiano. O camponês era ofuscado pelos poucos, mas poderosos, ricos, o
clero e a nobreza. Esses eram chamados pelos agricultores de “siori” os ricos.
Eles criaram uma música enquanto enfrentavam o desconhecido e a emigração.
Aisiori del Tirol / noi ghe daren zapa / la zapa e anca
el badil / Siori menar i boi, siore a menar el plof (aratro) / ei contadini em
Mérica / a be el vin nof.
Tradução: Para os ricos do Tirol, daremos a eles a
enxada, a enxada e a pá, as mulheres ricas conduzirão os bois e as mulheres
ricas puxarão o arado... enquanto os fazendeiros vão para a América beber um
vinho novo.
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