Uma homenagem ao meu falecido pai, que se vivo, estaria completando hoje (27.03.2025) 106 anos.
Leonildo Rampanelli
Escrito
por sua filha, Tereza Rampanelli Bassani
Leonildo
Rampanelli, era filho de Carlo Costante Rampanelli e Catherina Bonatto Rampanelli,
nasceu em Dois Lajeados - RS, em 27 de março de 1919.
Iniciou
suas atividades laborais na roça, na propriedade da família na Linha Visconde
de Sabóia, porém, com 17 anos, começou a trabalhar na Sociedade Cooperativa de
Banha Sul Brasileira Ltda., em Dois Lajeados no Rio Grande do Sul, onde
permaneceu trabalhando no período de 1936 a 1941.
Leonildo
trabalhou no período de 1941 a 1953 no Frigorífico Ideal S/A em Serafina
Corrêa-RS, hoje BR-Foods, onde inicialmente atuava no setor de matança e
embutidos e, posteriormente, desenvolveu as atividades de fiscal sanitário. Sua
esposa Maria Aschidamini Rampanelli também
trabalhou na mesma empresa por 5 anos.
Frigorifico Ideal S/A de Serafina Corrêa-RS. Local de trabalho
de Leonildo Rampanelli e de outros membros da família Rampanelli.
Em
1954 empregou-se na Fábrica de Bebidas Irmãos Montanari, permanecendo até 1957.
Inicialmente trabalhou no cargo de operário na fabricação de bebidas, mas
destacou-se como carreteiro entregador, que, para o qual, fazia-se valer de
ternos de mulas e carroça, abastecendo principalmente comércios e festas nas capelas
no interior do município e nas cidades próximas.
Carreteiro Domingos Migliavacca
de Serafina Corrêa em frente ao hotel dos viajantes carreteiros em Muçum. Toda
a produção da Colônia Guaporé era enviada por carroças até o Porto de Muçum
para serem destinadas a Porto Alegre,
principal centro consumidor do Estado do Rio Grande do Sul, por barcos e barcaças pelo Rio Taquari. Essa foi uma das profissões de Leonildo
Rampanelli.
No
ano de 1957, foi nomeado para o cargo de Jardineiro, contratado pela Prefeitura
Municipal de Guaporé, para atuar na manutenção das praças do então distrito da
Linha 11. Com o advento da Emancipação de Serafina Corrêa, Rampanelli foi
mantido no cargo de Jardineiro, permanecendo no mesmo por 17 anos, até sua
aposentadoria em 1974, convertendo-se no primeiro jardineiro do município. Leonildo
Rampanelli, na condição de jardineiro, trabalhou na construção e instalação da
Praça da Matriz, mantendo-a sempre florida, com árvores e cercas vivas
exigentemente podadas e em alinhamento.
Praça Pio XII na Linha 11, hoje
Serafina Corrêa, o antes e depois de ajardinada. No canto inferior direito da
imagem à esquerda Leonildo Rampanelli realizando a poda das àrvores. Está
acompanhado por João Dalla Rosa que era casado com Maria Guerina Rampanelli,
filha de José Antônio Rampanelli e de Thereza Cartelli e também moravam em
Serafina Corrêa.
Muitas
vezes, quando da viagem dos prefeitos, Amantino Montanari e Guerino Massolini,
Rampanelli os acompanhava para realizar a compra das mudas de árvores e flores,
devido o grau de exigência e capricho. Preocupado com o contexto da praça,
preferia, ele mesmo, manter limpas as ruas que davam contorno ao local.
Além
de jardineiro da cidade, Leonildo Rampanelli foi responsável, também, por
diversas atividades, como pela iluminação pública, que era ligada às 18 horas e
desligada, inicialmente às 22hs e posteriormente as 6 hs da manha. Durante as comemorações da
Semana da Pátria, sob o seu comando era entregue o fogo simbólico e a
incumbência do preparo para o hasteamento, arriamento e guarda das bandeiras.
Também,
por inúmeros anos, foi o responsável pela distribuição dos carnês do IPTU,
oportunidade em que recebia a ajuda dos filhos para organizar a separação por
ruas e famílias, para posterior distribuição.
Leonildo
Rampanelli também destacou-se nas atividades desportivas, no time do Gaúcho
Futebol Clube, jogando na posição de meia e ponteiro direito, fazendo parte do
imbatível time da época.
Equipe do Gaúcho de Serafina
Corrêa várias vezes campeão regional e duas vezes campeão do absoluto de
amadores do estado do Rio Grande do Sul. Leonildo é o primeiro da esquerda para
a direita, na linha central de joelhos.
Leonildo
Rampanelli também se destacou como um
exímio jogador de bocha e bolão, fazendo parte das equipes de Serafina
Corrêa, nas disputas de campeonatos regionais.
Na imagem: Leonildo é o segundo da esquerda para a
direita e o primeiro de pé.
Ainda no Clube Gaúcho, por inúmeros anos foi o
responsável pela entrega dos carnês e cobrança das mensalidades sociais,
serviço que realizava fora do seu horário de trabalho e aos finais de semana.
Antiga sede do Clube Gaúcho de
Serafina Corrêa, onde Leonildo Rampanelli foi jogador de futebol, sócio e
membro da Diretoria. Seu filho Antônio Rampanelli também foi jogador e membro
da Diretoria. A imagem é do anos 1960.
Na
vida religiosa, sempre foi muito participativo. Atuava nas festas paroquiais
intensamente. Era sócio e fabriqueiro da Capela Nossa Senhora da Salete, tendo
seu trabalho se destacado no tempero das carnes e controle do churrasco. Também
participava ativamente nas encenações da Via Sacra na sexta feira Santa e das
festas do Cristo Rei.
5ª Estação: Simão de Cirene ajuda
Jesus a carregar a Cruz
"Certo homem de Cirene,
chamado Simão, pai de Alexandre e de Rufo, passava por ali,
chegando do campo. Eles o forçaram a carregar a cruz." Marcos 15:21.
Leonildo Rampanelli participa como
soldado romano na encenação da Via Sacra. É o segundo da esquerda para a
direita, indicado pela seta. Anos 1960.
Nota do autor: Faço uma
pequena observação desta cena: Digamos que o figurinista se atrapalhou um
pouquinho na escolha da indumentária dos atores, estão modernos demais para a
época representada, usando sapatos de couro e botas de couro com meias brancas.
O meu pai era baixinho, magrinho demais, não iria dar um bom soldado romano.
Ainda bem, que escolheu como profissão ser jardineiro e não ator. Mas o que importa foi a disposição desses
atores sociais amadores, em expressar a sua religiosidade, através da
representação da vida e morte de Jesus Cristo.
Leonildo Rampanelli – Participação
social com a mão na massa
Como
muitos outros serafinenses, Leonildo Rampanelli
ajudou a escrever a história de Serafina Corrêa, trabalhando também na
construção da Torre da Matriz, do Salão Paroquial, do Ginásio Nossa Senhora do
Rosário, da ponte sobre o rio Carreiro, do Monumento ao Cristo Rei, do
Cemitério Municipal, da construção do Hospital, das pontes sobre o Rio Feijão
Cru, da Praça Municipal e da ampliação do Frigorífico Ideal. Ilustramos a seguir com imagens algumas das
obras que Leonildo Rampanelli participou das construções, deixando um grande legado
para as gerações futuras de todos os serafinenses.
Leonildo Rampanelli (o segundo da
esquerda para a direita, com a mareta no ombro) sempre foi ativo participante
na construção das obras públicas e religiosas na Linha 11, hoje Serafina
Corrêa.
Construção da torre da Igreja
Matriz Nossa Senhora do Rosário. No dia 8 de maio
de 1951 foi colocada a primeira pedra e no dia 8 de maio de 1953 foi
inaugurada, com uma grande celebração.
Imagem 1: A torre e a Igreja
hoje. Leonildo Rampanelli participou ativamente da construção da torre da
Igreja. Imagem 2: Seu modelo arquitetônico foi inspirado em fotos da torre da Comuna de Fonzaso na Itália.
Construção do Cristo Redentor de Serafina Corrêa. Leonildo
Rampanelli se fez presente também na construção do Cristo,um monumento a fé religiosa dos
descendentes de imigrantes.
Governador Ildo Meneghetti
realiza a vistoria nas obras de construção da ponte sobre o Carreiro em
Serafina Corrêa-RS, ligação importante com o município de Nova Bassano. Leonildo Rampanelli também participou desta
construção.
Imagem 1: Construção do 3º andar do antigo colégio
ginasial, hoje no local funciona uma escola privada. O Prédio ao lado é o
Hospital Nossa Senhora do Rosário. Imagem 2: Construção do novo salão
paroquial.
Complexo atual: À esquerda o
Salão Paroquial. Ao centro a torre da Igreja e o antigo prédio do Colégio
Ginasial, hoje uma escola privada. À direita o Hospital Nossa Senhora do
Rosário. Obras sociais, religiosas e comunitárias que tiveram a participação de
Leonildo Rampanelli na sua construção.
O Casamento de Leonildo Rampanelli

Em
24 de maio de 1944 casou com Maria Aschidamini, constituindo uma prole de cinco
filhos: Antônio, Carlos, Tereza, Luiz e José. Leonildo e Maria adotaram outro
filho de nome Paulo, com apenas dois meses de vida. Também eram avós de 7
netos; Natália, Estevão, Débora, Gean Carlo, Iury, Leonardo e Alexandre. Depois
da sua morte, nasceram seus cinco bisnetos, Enzo, Lucas. Luan, Miguel e Geanluca.
Nota
do autor: A imagem é única do casamento de Leonildo
Rampanelli e Maria Aschidamini Rampanelli, pais do autor. Leonildo é o 9º filho
de Carlo Rampanelli. Ano 1945. O casamento foi oito meses antes da foto
oficial, pois o fotografo só chegava na
Linha 11 da Colônia de Imigração Guaporé uma única vez por ano. Fonte: Acervo
familiar.
O adivinhador de águas
Praticamente
todos já ouvimos histórias contadas pelos nossos pais e avós, de pessoas que
tem o dom de explorar água. A técnica é milenar.
Entre
os muitos dons de Leonildo Rampanelli, pai deste autor, era a sua habilidade em
descobrir veios d’água, através da técnica da vara, geralmente uma forquilha de
galhos de goiabeira ou de pessegueiro, prática comum, utilizada pelos
imigrantes para achar água. Está técnica era privilégio de poucos, foi a
primeira a desenvolver a percepção, que não era comum, mas podia ser
exercitada, a tal ponto que os peritos em localizar veios d’água eram e
continuam sendo procurados.
Na
teoria, a técnica é bem simples, basta segurar a forquilha com a palma das mãos
para cima, fazendo uma pequena pressão para entortar as extremidades para fora.
Quando a ponta da vareta se mexer é porque você está passando por cima de água
subterrânea.
Para os achadores de poços, não bastava saber
onde havia água, mas a que profundidade estava à água. É possível estabelecer a
profundidade do lençol freático a partir do número de vezes que a forquilha se
mexe. Também era fundamental saber a que profundidade começava a pedra, pois o
fundo de pedra era importante para manter a água limpa e potável. A água de
poço sem fundo de pedra era considerada água de banhado. O perito em localização de água devia
garantir o possível volume de água do veio localizado, o entorno do veio, bem
como a persistência da nascente em épocas de secas. Por isso o veio deve ser
localizado em época de secas para ter a certeza da qualidade do veio em reter
água.
Essa técnica se chama radiestesia, palavra
que significa “sensibilidade às radiações” (origem grega). Isso funciona porque
todas as pessoas têm a capacidade de perceber, inconscientemente, as radiações
do ambiente, como as que são produzidas pela água em movimento. Elas geram
impulsos musculares que acabam se refletindo na forquilha, que funciona como
uma antena.
O
problema é que a ciência não a reconhece, até hoje não conseguiu comprovar se a
técnica realmente funciona. Os adeptos desta técnica (radiestesia) ciência
oculta que investiga a suposta sensibilidade humana às radiações afirmam: “que
o campo eletromagnético seria tão fraco que é impossível medi-lo por aparelhos
convencionais. Que os músculos passariam a fazer movimentos imperceptíveis a
olho nu. A vareta tornaria essas microvibrações visíveis, indicando a
localização de um lençol freático subterrâneo. Quem manipula a forquilha é
capaz de associar esse movimento com a presença de água com 100% de acerto após
algum tempo de prática”.
Aqui não se trata de questionar a ciência,
mas sim pelo fato de ter sido testemunha ocular da atuação de meu pai como
adivinhador de águas, geralmente em propriedades coloniais no interior do
município de Serafina Corrêa e ouvir meu pai dizer ao dono das terras que o
requisitaram: “pode cavar aqui, fazia a marcação com madeira ou pedras, vai
achar água em tantos metros de profundidade”. Meu pai nunca cobrou nada pelos
serviços, que sempre fazia fora dos horários de trabalho, muitas vezes os que
solicitaram seus serviços foram recebidos em casa, vieram agradecer por terem
cavado os poços como foram orientados e encontraram água de boa qualidade na
profundidade indicada. Essa forma de agradecimento se dava, geralmente com a
entrega de vários produtos coloniais como: frutas, carnes, leite, ovos,
queijos, salames, entre outros.

Agricultor Ângelo Belusso, 73 anos
morador do município de Bandeirante na Linha Várzea Alegre. Um dom descoberto há
cinquenta anos. Fonte: Folha do Oeste (São Miguel do Oeste) matéria publicada
em 25/04/2017. Imagem meramente ilustrativa.
Uma
homenagem da comunidade para um cidadão exemplar
Leonildo
Rampanelli era um homem muito simples, honesto, solidário e de poucas palavras
e foi exemplar no exercício da vida pública e no relacionamento com as pessoas.
Viveu com intensidade sua vida de trabalho, honrando as atribuições de sua
função, deixando um pequeno legado, que merece ser eternizado. Esta homenagem
resgata parte importante de sua história e dedicação pela família, pela sua
cidade e mostra que a humanidade não se constitui somente de grandes obras, mas
de gestos e ações que dignificam o homem e dão exemplos de cidadania.
Uma praça para um Jardineiro –
Praça Leonildo Rampanelli
Nada
melhor, do que dar o seu nome a uma praça, para homenagear o exemplar
jardineiro da sua cidade.
Praça Leonildo
Rampanelli no Bairro Planalto em Serafina Corrêa – RS. Uma homenagem da
comunidade serafinense ao seu primeiro Jardineiro, da sua primeira praça ( Praça Pio XII).
Falecimento de Leonildo Rampanelli
Leonildo Rampanelli
faleceu em sua residência, em Serafina Corrêa-RS, no dia 14 de maio de 1991,
com 72 anos de idade, tendo como causa mortis: Adenocarcinoma de estomago. Foi
sepultado no jazigo da família, ao lado de seus pais, no Cemitério Municipal.
Uma homenagem da família
Lembranças....da
infância.....da adolescência.....de hoje.....de sempre...
Meu Pai
Escrito pelo
filho Carlos Rampanelli
Eis que aí vem o seu Leonildo:
Com o carinho de mão
Carrega seus instrumentos
Dos arbustos é artesão:
Vai podando com cuidado,
Nada deixa pelo chão.
Faz capina, faz limpeza,
Cuida bem da natureza,
Tudo faz com perfeição.
Seu dia começa bem cedo,
Bem antes, do sol nascer,
Leva água para as flores
Que não param de crescer.
Embeleza toda a praça
Que dá gosto de se ver...
É exemplo de humildade,
Trabalho e fraternidade,
Nada o faz se enraivecer.
É amigo de todo mundo,
Nunca briga, nunca ofende.
Auxilia o seu Vigário;
Até o Escrivão ele atende
testemunhando nascimentos...
E ajuda muita gente
Com seu dom de encontrar água,
E para casa não leva mágoas,
Vai sempre feliz, contente.
O Senhor Leonildo Rampanelli
Entre nós não está mais
Mas será sempre lembrado
Em sua terra, em sua cidade.
Com esta justa homenagem
Que lhe fez a Autoridade
Sua lembrança não se esvai,
E nós, seus filhos, com saudade,
Sempre diremos: Obrigado, nosso Pai!
A
Família de Leonildo Rampanelli
Leonildo Rampanelli e Maria Aschidamini com os filhos: Carlos
(à esquerda), José (no colo), Antônio (à direita), Luiz e Tereza Rampanelli (na
frente). Imagem: Acervo pessoal da família. Data:1960.